América Latina lado B, Ariel Palacios
“O cringe, o bizarro e o esdrúxulo
de presidentes, ditadores e monarcas dos vizinhos do Brasil” – essa a promessa
da capa do livro. No entanto, não se engane: muito além de tudo isso estão os
crimes, os assassinatos, os genocídios de toda uma gente que se assenhoreou do
poder em praticamente todos os países da América Latina, através de eleições
fraudadas ou de golpes de estado, nesses dois últimos séculos, o que nos leva a
dizer que a narrativa do repórter da Globonews traz mais motivos para chorar do
que para se divertir com passagens vergonhosas, bizarras ou esdrúxulas. O
Brasil não está na longa lista de países que tiveram governantes estúpidos ou
absurdos, mas também aqui não nos enganemos: haverá, possivelmente, em breve,
algum outro repórter a nos fazer passar o mesmo grau de vergonha que, por
exemplo, passa a Argentina. O capítulo dedicado a esse país – que, nós, brasileiros,
costumamos ver como exemplo de gente civilizada – apresenta-nos um festival de
horrores de seus governantes, muitos deles eleitos pelo povo, mesmo sabendo de
suas esquisitices. E isso vem acontecendo há muitos e muitos anos e repete-se a
cada golpe de estado ou a cada escolha de novo presidente (haja vista as
últimas eleições, quando o escolhido para a Casa Rosada é um indivíduo que conversa
com seu cachorro que já morreu há muito tempo!). Essa vergonha alheia percorre
de norte a sul o continente sul-americano, salvando-se apenas o pequeno e
civilizado Uruguai que, apesar de haver sido governado durante uma década do
século passado por uma ditadura militar disfarçada por um governante civil, tem
pouco a acrescentar às esdrúxulas e incompetentes ditaduras e governos dos
demais países. Necessário ainda dizer sobre esse livro que é uma narrativa
escrita por um repórter, não por um historiador, numa longa reportagem
semelhante às que se podem ler em revistas semanais ou mesmo em obsoletos
jornais diários. Não há citação de fontes, o que nos leva a acreditar apenas na
palavra do autor, da qual não podemos duvidar até prova em contrário. Enfim,
para não nos alongarmos excessivamente nesta resenha, devo dizer que o leitor não
deve buscar, absolutamente, divertimento nas páginas desse livro, pois o que
ele narra em suas páginas pinga sangue e dor e opressão de muitos povos e está
muito além de nossos mais terríveis pesadelos.
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