Matadouro 5, Kurt Vonnegut
Em termos literários, não basta o que se conta, mas como se conta uma história. A forma escolhida pelo escritor estadunidense para contar uma história tenebrosa da segunda grande guerra foi a de uma pretensa leveza, com muita ironia. Mas, não se engane: não há, nesta “leveza” nenhum “passar pano” à crueldade e à barbaridade do ser humano durante um conflito bélico. Seu herói, ou devíamos chamá-lo, na verdade, de anti-herói, tem um comportamento praticamente passivo durante todos os acontecimentos anteriores e durante o fato principal da história: a destruição da bela cidade alemã de Dresden, na primavera de 1945, às vésperas do término da guerra. O bombardeio liquidou 135 mil pessoas, mais do que a bomba de Hiroshima. Mas o fato é pouco lembrado pela história. Vamos ao protagonista do romance: Billy Pilgrim parece ser cidadão mais do que comum, do interior dos Estados Unidos. Ao ser levado para a guerra, cai prisioneiro das forças alemãs e é levado para Dresden, onde passa a trabalhar num depósito de carnes subterrâneo e, por isso, sobrevive à destruição da cidade. Mas Billy Pigrim, embora pareça um cidadão comum, tem uma característica que o torna diferente e que leva a narrativa para um patamar de mistura de ficção científica e realidade: faz viagens no tempo e tem certeza de haver sido abduzido por extraterrestres de um planeta distante. Essa capacidade, narrada com humor e um certo sarcasmo, leva-nos a momentos da vida de Billy, suas origens, sua formação, seu casamento etc. Enfim, vamos conhecendo pouco a pouco essa personagem inventada pelo autor para ser uma espécie de alter-ego dele mesmo, testemunha que foi da destruição de Dresden. Um assunto espinhoso, tratado com “leveza”, mas de uma forma realmente interessante, sem sensacionalismo, mas com muita imaginação e sensibilidade. Um livro para não esquecer jamais.
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