Vulgo Grace, Margaret Atwood
Grace Marks tem 13 anos quando sua família emigra da Europa para o Canadá. Durante a viagem, sua mãe morre. O pai, beberrão e irresponsável, não sabe como lidar com as três crianças, um casal mais novo e Grace. A garota consegue emprego como criada numa casa de ricos e, a partir daí, aos poucos perde contato com a família. Aos 16 anos, vamos encontrá-la trabalhando na casa de Thomas Kinnear, no interior do Canadá. Envolve-se com um dos empregados, James McDermott e, ao que tudo indica, ajuda-o a matar o patrão e a governanta, Nancy Montgomery, que está grávida de Kinnear. Presos, são condenados à forca, mas somente McDermott vai para o cadafalso, já que a garota tem a comutação da pena de morte para prisão perpétua. Com o beneplácito de um perdão, é solta após 28 anos na penitenciária e em passagens por asilos de loucos, durante os quais também trabalha, como criada, na casa dos diversos diretores do presídio, por seu bom comportamento, coisa normal nessa época. Depois de solta, vai para os Estados Unidos, onde sua trajetória não deixa nenhum rastro, nenhum documento. Esses são os fatos históricos. A partir deles e com o auxílio de uma vasta documentação, a autora ficciona a vida de Grace Marks, buscando uma resposta impossível de ser encontrada, a não ser dentro dela mesma: Grace é realmente culpada? Ou, como declaram tantas petições a seu favor, durante e após a sentença, ela era jovem demais e, portanto, possivelmente não tenha cometido os crimes ou ajudado a cometê-los, apesar do testemunho devastador de MacDermott, afirmando em várias versões para os acontecimentos que ela fora às vezes a mentora dos crimes, outras vezes a coautora, embora ele seja considerado por todos um mentiroso contumaz. Não importa. O que o livro nos traz é a vida de uma jovem que passou dos 16 aos 45 anos na prisão, dizendo que não se lembrava do que realmente acontecera no fatídico dia dos crimes e cuja mente é perscrutada por um jovem médico, o Dr. Simon Jordan, cuja história de vida se entrelaça à de Grace e cujos recursos que ele usa, da psicologia da época, são insuficientes para chegar a uma conclusão do que realmente ocorreu. Enfim, um livro que, através da história dessa jovem, no traz um belo panorama dos usos e costumes de um país jovem, o Canadá, a partir do início da segunda metade do século XIX, já que os crimes atribuídos a Grace e a MacDermott ocorreram em 1843. A premiada escritora canadense Margaret Atwood, autora de “O conto da aia” (que deu origem a uma série cinematográfica de sucesso), não nega fogo: sua prosa nos seduz do princípio ao fim.
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