Don Juan (narrado por ele mesmo), Peter Handke
Na Île-de-France, numa região próxima às ruínas do monastério de Port-Royal-des-Champs, o dono de uma pousada decadente, solitário e ocioso, ávido leitor de Racine e Pascal, decide parar de ler e essa sua decisão coincide com o aparecimento de Don Juan, ele mesmo, o famoso conquistador, personagem de inúmeras obras literárias e musicais, no jardim de sua casa. Vinha fugido de um casal de motoqueiros, que ele surpreendera fazendo amor em uma ravina, e que se se enraiveceram com o voyeurismo de Don Juan. Acolhido pelo cozinheiro, o famoso conquistador irá desfilar suas aventuras para ele, que as reconta para nós (o “narrado por ele mesmo” do título é só um truque literário). São aventuras edulcoradas pelo estilo do autor, metafórico e deliciosamente entretecido de considerações e descrições que nunca chegam ao que de fato aconteceu com o ilustre visitante, mas apenas nos dão uma ideia das conquistas realizadas em vários países, de diversas mulheres, todas igualmente belíssimas (na imaginação de Don Juan ou na imaginação do narrador?). São seis dias de narrativas, seis conquistas, seis países ou lugares diferentes, desde a África até a Holanda. Imaginação, criatividade, enleio e, principalmente, o que vai conquistando o leitor é essa visão de um Don Juan extremamente personalizado, o Don Juan do autor, como ele mesmo diz no final do livro. Não é uma leitura fácil, ou seja, exige do leitor a capacidade de se encantar com as palavras, com o estilo e com as aventuras devidamente estilizadas pela pena de Peter Handke, mas pode-se ter certeza de que é uma aventura literária de sabor e cor poucas vezes encontrados na literatura, principalmente com relação a esse personagem que parecia já desgastado e que ressurge pleno de vigor, tanto como personagem quanto como ser humano, para nos surpreender mais uma vez.
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