O vendedor de passados, José Eduardo Agualusa
Um pequeno grande livro para se ler com a calma de uma tarde de verão. Saboreando cada palavra, cada frase, cada página do estilo cativante desse autor angolano de língua portuguesa. Um melodrama em que ninguém é exatamente aquilo que diz que é e tudo se explica ao final. Com exceção do personagem principal, o vendedor de passados falsos, Félix Ventura que, além de ter esse ofício estranho, é albino, mora numa casa entulhada de livros e tem por amiga uma osga, ou seja, uma espécie de lagartixa doméstica. Aliás, é essa lagartixa a narradora da história. Como Félix fabrica passados, ou seja, árvores genealógicas falsas, para celebridades, inclusive políticos, que precisam de uma história de vida que seja palatável ao público e conveniente para seus negócios, ganha bem e tem uma vida confortável. Um dia, recebe a visita de um estrangeiro que deseja uma identidade angolana. Oferece-lhe um pagamento muito alto por isso e o mergulha na busca de um passado de fatos complexos e de natureza política que vai aos poucos desvelando todo um sistema social de crimes e perseguições, numa crítica contundente à atual situação do país. Pode um passado falso encontrar a verdade? Será nossa memória totalmente confiável, quando se trata de reconstituir o passado? São perguntas que podem surgir à mente do leitor, ao final desse delicioso e instigante romance narrado por uma lagartixa, com seu final emblemático e intencionalmente provocante.
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