Mudar: Método, Édouard Louis
Eddy Bellegueule nasceu numa família pobre, de classe operária, numa miserável cidade no norte da França. Sim, a poderosa França também tem seus nichos de pobreza e exclusão. Desde menino, sente atração por homens, mas recalca esse sentimento, por pressão familiar e social, por sofrer perseguição de outros moleques e nunca ser escolhido, por exemplo, para o time de futebol. Adolescente e destinado ao mesmo tipo de trabalho operário do pai violento e alcoólatra, foge para uma cidade maior, Miens, onde consegue emprego e conhece sua melhor amiga, uma jovem de classe média, e um escritor e professor universitário gay, muito famoso. Tomando-o como modelo para sua vida, mas ainda recalcando suas tendências homossexuais, decide mais uma vez fugir e vai para Paris, atrás de conhecimento, de cultura, de tornar-se também ele um escritor famoso, tornando-se um leitor compulsivo, para tentar entrar numa das instituições mais famosas da França, berço da alta burguesia. A muito custo, consegue seu intento e tem uma agitada vida social em Paris, ao lado de homens ricos e poderosos que lhe mostram o outro lado da vida, o lado do glamour e da vida fácil. Esconde sua origem e até seu nome, passando a chamar-se Édouard Louis, e tornando-se um escritor de sucesso. Toda essa trajetória é contada no estilo direto, rápido, sem meias palavras, numa narrativa que nos envolve desde as primeiras páginas, pelo contexto de luta, resiliência, superação de dificuldades e, principalmente, pelo talento desse ainda jovem escritor francês, na sua luta para vencer a discriminação, a homofobia e mostrar que o mundo pode ser um lugar melhor, se deixarmos de controlar os desejos e a vida íntima das pessoas. Embora seja uma narrativa longa, de mais de 200 páginas, o estilo ágil do escritor não nos permite demorar muito tempo em sua leitura altamente recomendável a todos os pais que tenham filhos na pré-adolescência ou na adolescência, para que abram suas mentes para os anseios e desejos deles, sem preconceitos, para que se tornem seres humanos plenos sem o sofrimento de injuções familiares autoritárias e impositivas. Um garoto ou uma garota não se tornam gays, a homossexualidade é uma condição humana, muito humana, e não uma maldição. Pensem nisso. E deixemos que nossos filhos sejam o que eles quiserem ser, que escolham seus caminhos. Livres, serão sempre nossos.
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