A incrível lavanderia dos corações, Yun Jungeun
A obra ficcional leva-nos para uma supra realidade. Essa supra realidade reflete o mundo real, tem regras próprias deve, como condição básica, coerência interna, num jogo de espelhos. Ao aceitarmos esse jogo, temos a possibilidade de entender melhor o mundo em que vivemos e, principalmente, a nós próprios. Quando Lewis Carrol nos faz viajar com sua Alice por um espelho mágico, sabemos que aquele mundo fantástico é absurdo, mas por ele navegamos prazerosamente e cada um de nós tira suas lições de vida. Assim fazem todos os bons ficcionistas. E assim fez a autora coreana de “A incrível lavanderia dos corações”. Convida-nos o seu livro a um mundo de fantasia, uma longa fábula, da qual podemos tirar lições de vida. A história é longa e tem inúmeras histórias secundárias e muitos detalhes. Mas podemos resumir assim: uma garota ouve uma conversa dos pais e descobre que tem um dom, mas ela não fica sabendo qual é esse dom, porque eles morrem antes de lho revelar. Para reencontrar os pais e recuperar o mundo mágico da infância, ela vive mil vidas e acaba por se encontrar numa pequena cidade chamada Vila dos Cravos. Como nem se lembra mais do próprio nome, autodenomina-se Jieun, ao ser interrogada pela dona de um bar, no alto de uma colina de onde se descortina uma bela vista. Pensa que seu dom é consolar as pessoas e, para isso, instala nessa colina a sua Lavanderia dos Corações, onde tem por missão apagar a más recordações que seus clientes escolherem para serem apagadas e, assim, viverem mais felizes. A esse mundo mágico acorrem várias pessoas, cada uma com suas recordações, suas vidas complicadas e, para cada um, a enigmática Jieun oferece seus serviços. Um dia, porém, descobre que ela própria precisaria ter seu coração lavado das más lembranças. No entanto, questiona-se se é esse o melhor caminho para encontrar a paz que tanto deseja. A situação toda é mais complexa do que meu resumo, mas fiquemos por aqui. O que eu quero deixar para meus ocasionais leitores, nesse breve comentário, é que se lê essa história – fantástica, absurda, misteriosa – com muito prazer, porque, além de ser contada com muita competência, numa estrutura moderna, podemos dela retirar muitas lições ou reflexões sobre o nosso mundo real, já que o que nos fica, ao final da leitura, é que, por mais vicissitudes que a vida nos proporcione, conviver com todas as nossas lembranças nos permite ter a plenitude de viver um dia depois do outro, ou seja, viver o presente, aceitando o passado e nos preparando para o futuro, sem esquecer que a vida é hoje. Portanto, além de uma história fantástica, da viagem por um mundo de fantasias que nutrem nossa imaginação, temos uma fábula que, sem moralismos, deixa em nossa mente a velha máxima de Horácio: CARPE DIEM (carpe diem quam minimum credula postero, literalmente: “aproveita o dia e confia o mínimo possível no amanhã”).
Nenhum comentário:
Postar um comentário