terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

A malnascida, Beatrice Salvione

A malnascida, Beatrice Salvione


Todos nós vivemos ritos de passagem da infância para a adolescência, como preparação para enfrentar os desafios da idade adulta. Nem sempre percebemos claramente que os momentos difíceis dessa época, as dificuldades, as dúvidas, as amizades e inimizades, o tropeços e pequenas vitórias são ritos de passagem que, em muitas culturas, são bem mais explícitos, muitas vezes com desafios e provas determinados pelos adultos. O romance da italiana Beatrice Salvione trata justamente dessa época complicada da vida de duas garotas de origens bem diversas: uma, a narradora (Francesca) é filha única de família razoavelmente estruturada, de classe média; a outra (Maddalena), a malnascida do título, vive com a mãe e os irmãos, um rapaz e duas meninas, em situação de quase miséria. Estamos em 1936, em Monza, Itália, em plena vigência do fascismo de Mussolini, cuja figura é onipresente em todos os acontecimentos sociais do país. Também estava em curso a guerra expansionista de Mussolini contra a Abissínia (Etiópia). E tudo isso tem influência direta ou indireta na vida da cidade e na sociedade. A história narrada no romance começa quando Francesca, de 13 anos, está nas margens do rio Lambro, vergada sob o peso de um homem morto que tentou violá-la. Maddalena sai da água e ajuda-a a livrar-se do corpo: escondem-no no meio de arbustos. A amizade entre as duas começara um ano antes, quando Francesca se apaixonou pelo modo de vida livre da garota vista por todos como uma malnascida e, portanto, renegada pela sociedade. Muitas aventuras já haviam elas vivido até aquela data fatídica e a reconstituição de todos os momentos vivos por ambas leva-nos a uma história de amizade e de luta contra as injustiças sociais, numa época complicada da Itália e da sociedade italiana, tomada por antigos preconceitos e, agora, pela doutrina fascista. Uma bela história, sem dúvida, que se lê com o prazer de uma escrita ágil e moderna.

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