sexta-feira, 16 de maio de 2025

Essa história está diferente – dez contos para canções de Chico Buarque, compilação de Ronaldo Bressane

Essa história está diferente – dez contos para canções de Chico Buarque, compilação de Ronaldo Bressane


Os dez contos compilados têm estilo, extensão e qualidade muito diversos uns dos outros. Há, no entanto, duas coisas que os unem: primeiro, claro, as canções de Chico Buarque e, em segundo lugar, a tentativa de uma literatura moderna e mais ou menos descolada da tradição do conto, buscando uma linguagem às vezes um tanto “modernosa”, com exceção, talvez, do moçambicano Mia Couto, que é moderno sem recorrer a truques de linguagem. Aliás, Mia escolheu a canção “Olhos nos olhos”, para nos dar sua reinterpretação do universo de Chico. Os demais contos são (e o/a leitor/a pode ter alguma ideia, remota, é verdade, do que o espera só com o título e a canção escolhida): “O direito de ler enquanto se janta sozinho”, de Alan Pauls, para “ela faz cinema”; “Lodaçal”, de André Santana, para “brejo da cruz”, que merece uma observação: é o mais longo dos contos e parece um jogo de cartas embaralhadas que vai nos enredando e confundindo e, às vezes, até mesmo nos irritando, mas, ao final, somos obrigados a confessar que é a obra que mais se aproxima do mundo complexo das canções de Chico, um belíssimo conto; “Carioca”, de Cadão Volpato, para a canção de mesmo nome; “Entrelaces”, de Carola Saavedra, para a canção “mil perdões”; “A calça branca”, de João Gilberto Noll, para “as vitrines”; “Feijoada completa”, de Luís Fernando Veríssimo, para a canção de mesmo nome, num conto divertido, mas que não é o melhor do autor; “Os fantasmas do massagista”, de Mario Bellatin, para “construção”; “A mulher dos meus sonhos e outros sonhos”, de Rodrigo Tresan, para “outros sonhos” e “Um corte de cetim”, de Xico Sá, para uma das mais belas canções do Chico, “folhetim”. Os autores, em geral, não “interpretam” as canções do compositor, mas criam e recriam mundos que nos aproximam ou nos levam de alguma maneira para o universo e as letras quase sempre metafóricas e concisas do compositor, lembrando sempre que letra e música, principalmente em se tratando de Chico, são indissociáveis e, por isso, eu aconselho ao leitor ou leitora do livro que ouça as músicas citadas, para entrar na atmosfera dos contos. Eu não sei se o Chico Buarque gostou do resultado, mas, em linhas gerais, eu gostei.

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