quarta-feira, 21 de maio de 2025

Ritos de passagem, Willian Golding

 Ritos de passagem, Willian Golding


Início do século XIX. Edmund Talbot, um jovem promissor da realeza britânica, embarca numa longa viagem num velho navio de guerra adaptado para passageiros, rumo às terras da Austrália. Em forma de missiva a seu tio, como forma de entretê-lo, relata com mordacidade e humor típico do inglês o dia a dia naquele espaço exíguo, onde convivem a marujada e passageiros de todas as classes sociais, emigrantes quase todos eles em busca de melhores condições de vida em algum lugar da terra. Há, é claro, muita tensão entre eles, tanto entre os marujos e os passageiros, quanto entre os próprios passageiros. Talbot tenta, por curiosidade e para encher as páginas de seu diário, conviver com todas aquelas pessoas e acaba se envolvendo com uma das passageiras, uma bela mulher que parece ter caso com vários outros indivíduos. Também conhece e tenta se relacionar com um jovem reverendo, Colley, um indivíduo estranho e problemático, odiado pelo comandante e desprezado pela tripulação e pelos demais passageiros. A situação se complica quando esse reverendo morre após sofrer um trote da marujada, por ocasião da passagem do navio pela linha do equador, e suas exéquias são narradas com um misto de comiseração e humor negro, numa das páginas mais emblemáticas, e também mais engraçadas, do romance. Talbot vai tecendo considerações sobre a vida no navio, o tédio de longos dias de calmaria, as idiossincrasias de oficiais e marinheiros, seus conflitos e as diferenças e choques de personalidades, sempre num estilo elegantemente mordaz, o que torna a leitura do romance uma aventura ao mesmo tempo literária e humana, com observações sobre a sombria natureza dos seres humanos e seus ritos, principalmente os de passagem não só pela linha do equador, mas também pelas dificuldades da vida num espaço exíguo e insalubre de uma embarcação do início do século XIX, quando as noções de higiene e de convivência eram bastante precárias. Sem dúvida, uma obra prima do autor de “O senhor das moscas”, um dos romances mais emblemáticos da literatura inglesa do século XX.

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