A feiticeira de Florença, Salman Rushdie
Usando uma vasta bibliografia história, Salman Rushdie cria essa ficção meio fantástica meio real, para nos contar a história de Antonio Argalia, que viveu na Florença renascentista, amigo de infância de Niccolò Machiavelli. Mas suas aventuras não se restringem a Florença: Argalia decide tentar a sorte em terras longínquas e, como mercenário, oferece seus serviços a vários senhores, adquirindo experiência suficiente para colocá-lo no comando das forças otomanas que derrotam o xá da Pérsia, em 1514. A ex-amante do xá, Qara Köz, mulher de extrema beleza e de poderes mágicos, escolhe ficar com ele e, claro, ele se apaixona por ela, levando-a para sua cidade, onde se torna a poderosa e controversa feiticeira de Florença. Muitos anos mais tarde, um jovem mágico e viajante clandestino de um navio inglês que leva o embaixador da Inglaterra com uma carta ao poderoso imperador Akbar, o grande, consegue surrupiar essa carta e apresentar-se à corte de Akbar como seu tio, ou seja, filho de Qara Köz. Para provar esse pretenso parentesco, relata ao imperador a vida de sua belíssima mãe, com requintes de detalhes da vida de Florença, que o deixam em dúvida, embora as datas não batam: o forasteiro só poderia ser filho da feiticeira, se ela o concebesse em idade muito avançada, o que ele explica pelos poderes mágicos da pretensa mãe. A dúvida persiste, enquanto a narrativa esmiúça detalhes da vida em Florença e do dia a dia na corte do reino de Akbar no século XVI, misturando fantasia e realidade, para nos sugerir que a Renascença Florentina, dos tempos de Machiavel e de tantos escritores e poetas, pode também ter chegado aos impérios do oriente. O romance é longo, mais de 400 páginas, mas sua leitura nos traz o prazer de acompanhar uma história narrada com a perícia e a força de um dos maiores ficcionistas de nossos tempos. Depois de Os Versos Satânicos, essa bela e polêmica obra de 1988, Salman Ruschdie nos brinda, em 2008, com esse romance portentoso, que se deve ler com calma e atenção, para realmente se desfrutar de uma obra prima.
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