Fim, Fernanda Torres
A história me fez lembrar um concerto grosso, em que há vários solistas e uma orquestra. No caso, cinco protagonistas e inúmeras personagens a eles ligadas. A autora disseca a vida, os amores, os casamentos, as frustrações, as traições, as farras, as separações, os arrependimentos de cinco amigos cariocas e suas companheiras e amigas em suas trajetórias de vida e morte, num Rio de Janeiro das décadas de 60 a 80. Álvaro vive sozinho, passa o tempo de médico em médico e não suporta a ex-mulher. Sílvio é um junkie que não larga os excessos de droga e sexo nem na velhice. Ribeiro é um rato de praia atlético que ganhou sobrevida sexual com o Viagra. Neto é o careta da turma, marido fiel até os últimos dias. E Ciro, o Don Juan invejado por todos - mas o primeiro a morrer, abatido por um câncer. A autora não poupa ninguém, em seu mergulho nesta sociedade complexa e em transformação, num estilo ágil, com frases curtas e precisas, para levar o leitor a esse mudo de superficialidade, de sexo e de vidas sem muita perspectiva, que não seja a de conseguir algum lenitivo para suas frustrações. Não se impressione o leitor com a “carioquice” dessas personagens, pois são arquétipos de um mundo que parece livre de peias moralistas, o que nos leva para o terreno dos exageros, mas que, no fundo, ainda tem muito do moralismo “como o de nossos pais”, segundo cantava Elis Regina. O spleen, o cansaço do hedonismo, das farras, do sexo livre e inconsequente, talvez esteja na origem desse novo moralismo por que passamos. Fernanda Torres, em seu romance de estreia, talvez tenha mirado em pássaros livres durante a famosa “revolução de costumes” do final do século XX e acertado em seus descendentes, ou seja, seres humanos ainda presos a preconceitos e ideias retrógradas desses primeiros anos do século XXI. Leia, divirta-se, e comprove.
Nenhum comentário:
Postar um comentário