terça-feira, 5 de agosto de 2025

O herói de mil faces, Joseph Campbell

 O herói de mil faces, Joseph Campbell


Lançado em 1948, quando estavam no auge as teorias psicanalíticas de Freud e Jung, Campbell utiliza-se delas em muitos momentos para nos apresentar os mitos e as lendas de inúmeras civilizações de tempos remotos até os dias atuais, em busca de elementos comuns desses mitos e lendas, para traçar aquilo que se convencionou chamar “a trajetória do herói”. Os mitos fundadores cosmogônicos têm, na visão do autor, profundos elementos arquetípicos que, embora apresentem muitas e diferentes concepções religiosas, contêm, no entanto, semelhanças de visão de mundo de civilizações díspares no tempo, desde as mais remotas até séculos há pouco terminados, e no espaço, desde países do Oriente até os povos indígenas da América do Norte e os povos pré-colombianos da América Latina. E essas visões arquetípicas e esses símbolos ressoam até mesmo nos sonhos detectados pela moderna visão psicanalítica, na interpretação de seus teóricos máximos, na época, como Freud e Jung. Também as lendas relacionadas aos heróis de todos os tempos trazem em seu bojo elementos constituintes de uma trajetória que se repete, de mil formas diferentes, em quase todas as histórias de heróis e heroísmos, o que também os tornam elementos arquetípicos da civilização humana, em sua busca de compreensão de si mesma, o que é, sem dúvida, o objetivo de nossas narrativas: mesmo que falemos e escrevamos sobre deuses ou heróis de grande poder mágico ou espiritual, ou grandes líderes religiosos, como Jesus, Moisés, Buda, Krishna e tantos outros, como os Anciãos das tribos australianas, o que o ser humano busca sempre é a compreensão do universo que o cerca e a compreensão de si mesmo dentro desse universo, algo talvez utópico, mas que, espera o autor, os estudos comparativos dessas civilizações e de seus mitos possam contribuir não para a unificação do pensamento humano, mas ajam de alguma forma para o entendimento mútuo entre os povos e entre os seres humanos. Concluindo, ressalto que não é um livro de fácil leitura, não só pela complexidade do tema ou temas abordados, mas pela grande erudição de Campbell, que nos obriga a uma atenção redobrada para entendermos não só a literalidade do que ele escreve, mas, principalmente, os meandros de suas entrelinhas, e toda a visão de mundo que ele nos desvenda através dos inúmeros mitos e lendas que ele nos apresenta através de suas mais de quatrocentas páginas.

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