quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Salvatierra, Pedro Mairal

 Salvatierra, Pedro Mairal


Numa narrativa curta e envolvente, acompanhamos a busca de um filho pela verdadeira identidade do pai. O narrador, o filho, desde criança acompanhou a criação da obra de seu pai, Juan Salvatierra, um pintor mudo, que elabora ao longo de sessenta anos uma única pintura em rolos que se estendem por quatro quilômetros, onde retrata a sua vida, a vida de seus amigos, parentes e de seus filhos, e também as paisagens de sua terra natal, à beira de um rio, no interior da Argentina. Aliás, o rio é a metáfora da própria pintura ou a pintura é a metáfora da própria vida. Anos depois de sua morte, o narrador e seu irmão voltam ao barracão onde estão as pinturas do pai, juntamente com dois holandeses e um antigo auxiliar e amigo do pintor, para escanear a longuíssima tela e depois enviá-la para Holanda, onde ficará exposta numa fundação, já que as autoridades argentinas não deram a ela a devida atenção. Nesse processo, de escanear cada rolo, o narrador percebe que está faltando uma parte, referente ao ano de 1961. Começa, então, a sua busca pelo trecho perdido ou roubado, vindo à sua memória que, uma vez, um dos amigos do pai teve com ele uma discussão e teria danificado com uma faca uma das telas, mas isso é uma memória confusa de criança. Enquanto procura deslindar o mistério do rolo perdido, vamos acompanhando a descrição das várias passagens retratadas, que reconstituem a vida do pai, um homem que não falava porque sofreu em criança um acidente ao montar um cavalo. Mas, as lembranças e muito do que está retratado nas telas só vão se completar, quando encontrarem o rolo perdido ou roubado e uma parte desconhecida da vida do pai se revelar a eles. Vão descobrir que, por mais que convivamos com uma pessoa, um pai, um irmão, um amigo, há sempre um mistério, zonas escondidas, escaninhos de vida que deviam ficar no passado e que, quando revelados, trazem à tona emoções, amores ou fatos que, embora preencham lacunas, sempre nos surpreendem. Enfim, como afirmei ao abrir essa resenha, uma história envolvente que, embora curta, em apenas 112 páginas contém, na sua leveza, uma narrativa brilhantemente conduzida pelo autor.

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