Homo Ludens, Johan Huizinga
“... o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da ‘vida cotidiana’.” A partir dessa definição de jogo, o autor, através de sua vasta erudição, nos leva a compartilhar com ele a ideia de que o ser humano tem sua história e sua cultura quase toda pautada pelo jogo ou em termos de jogo, desde atividades tão pouco “lúdicas” como a guerra, até os jogos de tabuleiro, como o xadrez. Não que a cultura humana tenha nascido do jogo, mas nasceu no jogo, ou seja, assim como muitos animais, como os cães, quando jovens, brincam alegremente uns com os outros, e também assim agem as crianças, levamos pela vida o sentido lúdico em quase tudo o que fazemos. Mesmo a própria linguagem, com que codificamos as coisas e interpretamos o mundo em que vivemos, é feita de jogos de palavras, a metáfora. Desde os povos primitivos, passando pelas civilizações grega e chinesa, mitificamos o mundo através de jogos e regras lúdicas, para melhor o entendermos. Podemos não concordar pontualmente com algumas ideias do autor, mas entramos em seu jogo e, sim, acabamos por compreender que nossa civilização é construída em torno de comportamentos agônicos que estão por trás da maioria de nossos elementos culturais, desde um vetusto tribunal de justiça até a maioria de nossas manifestações artísticas, como a música ou a poesia, ou seja, subjaz sempre a ludicidade, o jogo, el juego, the play...
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