Trópico de Câncer, Henry Miller
Retorno à Paris de “Os Miseráveis”, agora na década de 30 do século XX, para seguir a história de outros miseráveis, agora os americanos que moram e tentam sobreviver na mesma cidade de Victor Hugo, um século depois, sem as revoltas e as trincheiras, mas na antevéspera da segunda guerra mundial. O autor-narrador Henry Miller não nos poupa, em suas andanças pelas ruas de Paris, seus subempregos e sua luta pela sobrevivência, entre escritores e artistas frustrados, prostitutas e aventuras com mulheres de todos os tipos: sua literatura sempre mistura suas reflexões ao submundo e ao que há de mais sórdido e, ao mesmo tempo, ao que há de mais humano em suas personagens. Ler Henry Miller é fazer a catarse de nossos sentimentos, de nossas frustrações e desencantos. Não há meio termo: ou o leitor mergulha no caos de suas reminiscências, das mais escrotas às mais sublimes, ou abandona o livro nas primeiras páginas. Mas, se prosseguir, sua coragem será recompensada pela prosa de um dos autores mais emblemáticos do século passado, em língua inglesa. Considerá-lo pornográfico é fazer a leitura superficial de suas obras, sem perceber que, por baixo do erótico, se encontram as nossas mazelas. É deixar de fazer uma viagem fantástica porque a cor do navio não nos agradou. Gosto de voltar a ele de vez em quando, para me lembrar de que um escritor, um verdadeiro escritor, não pode temer as palavras, não pode temer a verdade, não pode temer mergulhar no poço, por mais profundo que ele seja, onde a verdade foi um dia se abrigar.
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