A peste, Albert Camus
Talvez o mais denso estudo do ser humano diante de uma catástrofe natural, diante de algo que ele não entende, não consegue combater e para a qual não há solução a curto prazo. Passa-se a história em Orã, na Argélia, em 1947, quando a cidade tinha cerca de 200 mil pessoas (hoje tem mais de um milhão). Intrigados, os moradores começam a encontrar ratos mortos em suas casas, nas ruas, nas praças, em número cada vez maior, aos milhares. Até que parece que não há mais ratos. Então, algum tempo depois, um morador tem febre alta, gânglios e problemas respiratórios e morre. Depois outro, e mais outro e mais outro. Aos poucos, a peste vai tomando conta, e quando as autoridades se apercebem do tamanho do problema, ele já tomara proporções epidêmicas. A cidade é isolada. Os doentes se multiplicam. O sistema de saúde entra em colapso. Seguimos, então, a luta de alguns desses moradores em sua tentativa de salvar vidas, principalmente o médico Bernard Rieux. Solidão, solidariedade, desespero, vida e morte perpassam pelas páginas magistrais de Camus. Os seres humanos desnudam-se em seus sentimentos mais nobres, mas também em seus momentos mais torpes, quando desafiados pelo desconhecido e tremendamente mortífero vírus. Conviver com o isolamento, com a morte de pessoas próximas, com a saudade das pessoas distantes, esse o desafio da população cercada e sem perspectivas de curto prazo. Sem dúvida, um livro para se ler num momento como o que passamos, não para nos desesperarmos, mas para entender o ser humano, em suas múltiplas faces e compreender que, por mais pessimista que possa parecer a mensagem, ainda temos muito que aprender para sairmos do estado de barbárie em que ainda nos encontramos, apesar de todo o avanço científico e tecnológico, que muitos insistem em ignorar ou, até mesmo, a combater, presos aos mesmos paradigmas do retrocesso e da ignorância de tempos passados.
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