Tempos difíceis, Charles Dickens
Difícil é a tarefa de resenhar esse romance de Charles Dickens. Com seus inúmeros personagens e vidas que se cruzam na pequena e cinzenta cidade fictícia de Coketown, na Inglaterra da segunda metade do século XIX, o autor vai fundo na crítica à sociedade capitalista que emerge com todo o seu poderio nessa época. Thomas Gradgrind é um homem dos fatos, da realidade, e cria seus filhos num sistema que elimina todo o sentimento e qualquer vestígio de sentimentalismo. E dá, claro, com os burros nágua. Por outro lado, o burguês e banqueiro Josiah Boundeby cria uma falsa biografia de self-made man que veio do esgoto, da mais profunda miséria e sofrimento, para ascender à condição de riqueza e poder. Há ainda o circo do senhor Sleary, a menina abandonada pelo pai, e tantos e tantos outros personagens, que é difícil traçar o perfil de cada um neste breve comunicado. O que importa: uma obra densa, um romance de profunda meditação e crítica, escrito com toda a ironia cortante de quem sabe que o mundo está sendo pouco a pouco envolvido pelo monstro do capitalismo, que cria desigualdades e miséria como base da riqueza e poder de poucos. A própria cidadezinha é uma personagem fundamental na obra, com suas chaminés que emporcalham a vida e começam a torná-la quase insustentável, a ponto de seus habitantes adquirirem o hábito domingueiro de sair para o campo, para fugir do cinza e das cinzas fuliginosas de suas chaminés. Sem dúvida, um clássico, para ler, reler, pensar e repensar valores.
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