Jane Eyre, Charlote Brontë
A chamada era vitoriana está toda lá, neste romance com pinceladas góticas, que trata, em primeiro lugar, do amor incondicional e, em segundo lugar, da manutenção de princípios rígidos de moral e de conduta. Jane é a protagonista que conta em primeira pessoa sua trajetória de órfã (um quase clichê da literatura romântica, mas não só), enjeitada pela madrasta e mandada para uma escola de meninas, como muitas que existiam na Inglaterra da primeira metade do século XIX, cuja função era preparar as moças sem família para terem uma educação rigidamente convencional, voltada para algumas matérias específicas que as preparem para servirem depois como preceptoras e governantas nas casas da alta burguesia inglesa, com seus casarões imensos e uma grande quantidade de empregados. Uma burguesia rica e quase sempre ociosa, que tem na herança de seus antepassados, o conforto e a grandeza atual, sem perceber que uma nova ordem social começa a despontar e sua decadência será lenta, gradual, mas inexorável, com o surgimento de uma nova burguesia capitalista. Assim, nossa heroína, que para essa instituição vai aos dez anos de idade e ali passa oito anos de sua existência, adquire essa casca rígida de princípios inabaláveis que a vão levar da condição de governanta a noiva do ricaço burguês Edward Rochester e, depois, a quase mendiga e faminta a vagar pelas estradas, ao descobrir que seu noivo já era casado com outra mulher, uma louca que vive nos desvãos de Thornfield, a imensa casa que terá um final trágico. Várias reviravoltas acontecem na vida de Jane, até o desfecho final (para o qual não vou dar spoiler, embora seja uma história de muitos conhecida), quando, é mais uma vez a crença em princípios rígidos e numa espécie de destino traçado por ser superior que leva a protagonista a tomar suas decisões. Sem dúvida, um dos grandes romances da era romântica, com todo o sabor de drama e melodrama, de sofrimento e redenção que foi capaz de criar esse movimento literário que reinventou o amor e levou-o a paroxismos. E ao mesmo tempo, fez o ser humano voltar-se para si mesmo e buscar não só a redenção pelo amor ou pela fé, mas também pela justiça social, ao descrever e cantar com tanta profundidade as mazelas humanas.
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