sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Sobre heróis e tumbas, Ernesto Sábato


Sobre heróis e tumbas, Ernesto Sábato



Uma obra-prima, sem dúvida. Um romance de múltiplos focos narrativos, em que presente e passado se entrelaçam para traçar um retrato da Argentina dos anos 50 com personagens históricos de seu passado de lutas pela independência. A história já começa com o anúncio publicado na imprensa da morte da protagonista, a jovem Alejandra que mata o pai e põe fogo na casa e em si mesma. A primeira parte, portanto, narra a paixão de Martín, de apenas dezessete anos, por Alejandra, seus encontros e desencontros, e a misteriosa vida da jovem apenas um ano mais velha, mas já tendo uma vivência torturada e tortuosa, de uma família de antigos combatentes das lutas da independência e familiares com tradição de loucuras e desatinos. Um segundo foco é a narrativa de Fernando, pai de Alejandra, um homem atormentado por visões, que persegue e se diz perseguido por uma misteriosa e poderosa Seita de Cegos. Um grande momento de delírio e de encontro da personagem com seus fantasmas. Um terceiro foco tem o ponto de vista de Bruno, um apaixonado pela mãe de Alejandra e sua relação com a família da moça. Toda a narrativa é mesclada com fatos da história argentina, em que uma coluna de soldados se desloca em fuga para o norte, para a Bolívia, para que seu comandante não seja morto e, após a sua morte, a condução de seu cadáver através da Cordilheira dos Andes, para que ele não seja capturado e tenha sua cabeça exposta por seus inimigos em praça pública. Enquanto isso, Buenos Aires dos anos 50, com seus tipos característicos, seus bares, sua música, seu futebol, vive e pulsa ao longo de toda a narrativa. Não é um romance otimista, já que ressumbra a visão trágica que tem o autor em relação à vida, mas o final parece apontar para uma espécie de esperança nas regiões remotas da Terra do Fogo, como se a redenção do homem pudesse acontecer através de uma espécie de fuga, não a fuga da realidade, mas a através da busca de si mesmo, de suas raízes e de sua história, por mais terrível que ela seja. Sem dúvida, uma obra-prima.


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