A província das trevas, Daniel Arsand
Século XIII, Armênia. Um rei franciscano, Hetum II, acusado de acatar demasiadamente as ordens do papa, tem a curiosa ideia de enviar uma caravana à China, para difundir o cristianismo entre os súditos de Kublai, o khan que se considerava o soberano do planeta. Para tanto ele nomeia embaixador do Sumo Pontífice Nicolau IV um inescrupuloso mercador de Veneza chamado Montefoschi, para ir a Pequim acompanhado de um monge de 20 anos, Vartan Ovanessian, iluminador que tinha como única ambição pintar as maravilhas do mundo. A eles se juntaria um malfeitor punido com a castração por suas ladroagens, um charlatão franco e mais uma tropa de armênios, mongóis e judeus, que iriam se revelar uma corja ordinária de devassos cruéis. A longa marcha por desertos de areia e neve resulta insana. Evoluindo lentamente como seres fantasmagóricos, os viajantes – bárbaros aventureiros em busca de uma história, de uma qualificação e de um destino – formam um agrupamento humano sem mulheres, para o qual o desejo não faz distinção de sexo. E tudo para eles – prazer, amor, dominação, glória, sonhos – acaba desaparecendo sem deixar sinais. Todos se arrastam pela estrada da loucura e da morte, onde são abatidos por pavorosas enfermidades ou devorados por ferozes lobos. São homens brutos, quase feras, mas que se humanizam no amor, no desejo e no compartilhamento de emoções entre si, e então a homossexualidade brota entre eles como nunca foi anteriormente retratada em livros de aventuras medievais, sempre vistos os cavaleiros como machos héteros e heróis acima de qualquer suspeita. Realmente um livro que quebra cânones desse tipo de leitura, com sua narrativa de múltiplas peripécias, mas num ritmo lento e reflexivo, numa prosa cativante e deliciosa. Prazer total.
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