quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

A morte feliz, Albert Camus

 A morte feliz, Albert Camus



"No fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis de que a fábula ou a história contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?" Essa a proposta de Eça de Queiroz, em “O Mandarim”, ao seu personagem. Mersault, de Camus, em “A morte feliz” não tocou a campainha: entrou no quarto de seu amigo Zagreus, ex-amante de sua namorada, agora numa cadeira de rodas, sem as pernas, e rico, muito rico, e simplesmente deu um tiro em sua cabeça, apossou-se de seu dinheiro e foi viver a vida. Importante dizer que Mersault teve uma vida difícil, de muita pobreza. E agora, podia dar-se ao luxo de viajar de Argel para umas férias na Europa, depois comprar uma casa confortável num local isolado e morrer feliz, sem nenhum remorso. Parece simples, assim contada, a história que Camus nos apresenta, mas o livro é extremamente detalhista e reflexivo, principalmente sobre o que é a vida e, consequentemente, a morte, e, principalmente, o que é felicidade. O estilo vigoroso do autor não dá ensejo à monotonia ou ao tédio. Escrito entre 1936 e 1938 e só publicado em 1971, onze anos após sua morte, é uma obra essencial para a compreensão da poética e do pensamento de Camus. Dizem alguns críticos que seria uma espécie de preâmbulo a “O estrangeiro”, uma das suas obras-primas. Para ler com calma, degustando cada palavra, cada frase, cada parágrafo.



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