A história secreta, Donna Tartt
Seis amigos, seis colegas de turma. Cinco deles decidem matar o sexto. Quais as consequências desse ato? Parece mais um livro de detetives, de busca ou de punição a um assassino. Só parece. Resumo do enredo, para melhor explicarmos, sem muitas revelações, claro: numa pequena, mas prestigiada universidade do interior estadunidense, um excêntrico professor de cultura clássica, de grego, mais especificamente, reúne em sua turma poucos estudantes. No caso, apenas seis, entre eles um casal de gêmeos. São todos muito inteligentes e cultos. Deslumbrados pela cultura grega, quatro deles resolvem recriar um culto dionisíaco na floresta e, durante o transe, acabam assassinando um fazendeiro. O quinto colega descobre tudo e pode denunciá-los, devido à sua instabilidade emocional ou ao excessivo do uso de álcool e drogas ou, ainda, a um senso de moral e ética. Aliás, o consumo alcoólico entre os estudantes é realmente espantoso. E também de drogas. O novato da turma, o narrador da história, acaba envolvido por eles num complexo plano para matar o colega que pode denunciá-los. O crime é cometido. E então eles descobrem não só o inferno que é impedir que a polícia – e até o FBI é chamado, e pode revelar tráfico de drogas etc. – descubra o que fizeram, mas muitos outros fatores psicológicos e sociais estão envolvidos num assassinato, desde a convivência entre eles e os demais colegas da faculdade, até a relação do grupo com a família do morto, já que, por serem tão poucos e tão íntimos, há todo um histórico complexo de relações familiares. E eles descobrem que, ao matar um indivíduo, o mal causado não se restringe à eliminação apenas dessa pessoa, mas atinge uma gama muito grande de pessoas, familiares, amigos, colegas, comunidade, além da repercussão da morte trágica nos canais de comunicação. A turma de estudantes assassinos aos poucos entra num processo de autodestruição de consequências trágicas. E é esse longo e penoso relato o que constitui o principal atrativo desse livro que nos leva aos interstícios daquilo a que comumente se denomina “a alma” humana, os seus temores e remorsos, tornando instigante e, ao mesmo tempo, asfixiante a leitura da obra. O lado obscuro do ser humano, o lado obscuro de uma juventude meio sem perspectiva, mergulhada no egoísmo, no alcoolismo e no tenebroso universo das drogas, que criam no indivíduo um senso deturpado da realidade, esse o leit-motiv, o arcabouço principal da história, que não se resume à busca ou à punição de assassinos.
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