sexta-feira, 11 de março de 2022

A não violência – uma história fora do mito, Domenico Losurdo

 A não violência – uma história fora do mito, Domenico Losurdo


O discurso da não violência ou da resistência passiva, ou seja, o projeto de transformar o mundo num mundo sem derramamento de sangue, tem sua origem num ensaio de Walter Benjamin, de 1921. A partir daí, muitos líderes abraçaram o conceito da resistência passiva e pregaram a não violência como meio de alcançar de forma pacífica determinados objetivos. Talvez o líder mais famoso dessa filosofia tenha sido o Mahatma Gandhi. Com ele estiveram muitos outros, desde Tolstoi, passando por Martin Luther King e o Dalai Lama, e também muitas organizações, principalmente organizações cristãs, que se propuseram a combater o flagelo da escravidão e das injustiças sociais, bem como as chacinas promovidas pelas inúmeras guerras, de forma pacífica. No entanto, essa bandeira não é assim tão impoluta: Gandhi (e é o indiano um dos principais personagens da análise de Losurdo) manchou muitas vezes a ideia da não violência, com a defesa de lutas sangrentas e até mesmo liderou movimentos de recrutamento de soldados para lutarem a favor da Inglaterra, na esperança de que, com isso, os ingleses olhassem com boa vontade para o movimento de libertação da Índia, então colônia inglesa. Também o Dalai Lama, se defendia com fervor a não violência, convivia no Tibete com uma sociedade violenta. Ambos proclamaram ao mundo que seus povos tinham uma longa tradição de “docilidade”, mas isso, absolutamente, não é verdade. Tem o ser humano, em toda a sua trajetória, em todas as sociedades, uma longa tradição de violência e essa tem sido a tônica de todas as revoluções e de todos os movimentos libertários. A conclusão a que se chega, ao ler o longo ensaio de Losurdo, é que ainda estamos muito, muito longe de alcançar um mundo sem guerras, porque até mesmo o conceito de não violência tem sido usado para causar violências terríveis não só contra  algumas etnias, mas também contra nações, nas chamada “revoluções coloridas”, usadas pelos países poderosos para remover governos que não lhes interessam ou que contrariam seus interesses econômicos e políticos. São verdadeiros golpes de estado perpetrados através do incentivo de movimentos internos financiados por essas nações, com o apoio maciço da disseminação de notícias falsas (as famigeradas fake News), de que todos temos conhecimento e de cujas consequências nós, brasileiros, lamentamos muito.


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