Os amores difíceis, Italo Calvino
Nesse livro, Calvino abre seu fabulário, para falar de amores complicados, com a sutileza de sempre. Quando se lê uma fábula, espera-se que haja, ao final, um preceito moral. Não é o que acontece com as fábulas de Calvino: ele nos conduz, através de detalhes internos e externos para o mundo de seus personagens, e nos convida para o jogo, o lúdico jogo da ficção, a que interpretemos suas motivações, ou seja, chega-se a um ponto, depois de se degustar todos os meandros de enredos que parecem simples, que ele nos diz: agora é com você, leitor, as cartas estão na mesa, decifre-as você com sua imaginação. Assim acontece com a história do soldado tímido que tenta seduzir uma viúva durante uma viagem de trem; com uma respeitável senhora que vive o drama de perder no mar a parte de baixo de seu maiô, quando a praia está cheia; com um leitor que oscila entre a realidade densa da ficção e a fantasia erótica da realidade; com um míope que enfrenta as ambiguidades do uso de óculos; com uma esposa que descobre o adultério e o mundo no botequim da esquina; com um bandido e o sargento que o procura quando resolvem passar a noite na cama da mesma prostituta. E há, ainda, as duas novelas, mais longas, em que um casal e seu filho pequeno alugam uma casa repleta de formigas, e a história do intelectual preocupado com a poluição da cidade, ao mesmo tempo que convive com as frustrações amorosas e do dia a dia na redação de uma revista. Enfim, se o leitor entra no jogo proposto, sentirá o prazer de ler um dos escritores mais sutis da Europa, com sua prosa elegante, irônica e precisa.
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