domingo, 22 de maio de 2022

Esaú e Jacó, Machado de Assis

 Esaú e Jacó, Machado de Assis

Na bíblia, Rebeca privilegia o filho Jacó em detrimento de Esaú, o que os torna inimigos irreconciliáveis. Em Machado de Assis, a causa das desavenças entre os gêmeos Pedro e Paulo parecem vir “ab ovo”, isto é, desde que estavam no ventre da mãe, não havendo, depois de nascidos, uma causa específica. Já começa aí a ambiguidade, marca do escritor, na história dos gêmeos que se apaixonam pela mesma mulher, embora divirjam entre si em quase tudo, além de temperamentos opostos. Narrado em terceira pessoa pelo conselheiro Ayres, velho diplomata aposentado, de hábitos discretos e gosto requintado, amante de citações eruditas, que muitas vezes interpreta o pensamento do próprio romancista, tem como pano de fundo o final da monarquia e o início conturbado, politicamente, da república. Entre os gêmeos, Paulo é republicano e Pedro, monarquista. Quando a jovem por quem ambos estão apaixonados – e que não se resolve por nenhum dos dois – morre, juram ambos um pacto de amizade, rompida quando se tornam deputados por partidos opostos. Só farão outro pacto semelhante no leito de morte da mãe, no final do romance. Será que também será cumprido? Não há o que se possa elogiar mais em Machado de Assis: sua prosa é sempre deliciosamente eivada de pequenos mistérios, de situações ambíguas, de ironias, num estilo cativante e... exclusivamente machadiano!


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