Publicado em 1989, esse romance tem uma estrutura de fina arquitetura literária: alternando narradores com diversos pontos de vista, inclusive a de um gato, numa narrativa que segue o fluxo de consciência ou de lembranças dessas personagens, até desembocar, nos capítulos finais, numa visão aparentemente mais objetiva de um narrador em terceira pessoa, cativa-nos não só pela complexidade de cada uma desses personagens, mas também pelos temas levantados, sempre atuais, como a situação política do país durante a ditadura, as drogas, a aids, o movimento feminista. O enredo que se desvenda ante nossos olhos traz uma atriz decadente, Rosa Ambrósio, que relembra os amores de sua vida, enquanto entorna litros de uísque: o primo Miguel, morto aos vinte anos, de overdose; Gregório, o marido intelectual torturado pela ditadura e que se torna amargo e desiludido até o suicídio; e Diogo, o secretário e amante que a abandona por garotas mais novas. Rosa consulta regularmente uma jovem psicanalista, que um dia desaparece misteriosamente, além de ser vista e analisada pelos olhos generosos de Rahul, o gato que ela um dia resgatou das ruas. Um mosaico de vidas e de mistérios, na prosa sempre envolvente de uma de nossas grandes escritoras.
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