Breve Sexta-Feira - Isaac Bashevis Singer
Ao conceder o prêmio Nobel de literatura de 1978 a Isaac Bashevis Singer, a Academia Sueca de Letras atribuiu sua escolha à excepcional capacidade do escritor em “representar artisticamente a condição humana em termos universais” através de sua obra, inteiramente escrita em iídiche. Muitos afirmam que, com essa homenagem, pretendeu-se aliar o reconhecimento a um escritor de inegável imaginação criativa e talento e a um último e pomposo adeus à língua e literatura iídiche, fadada ao desaparecimento. De qualquer modo, o prêmio concedido a Bashevis Singer enfatiza uma afirmação há muito discutida pela teoria literária: o escritor é tanto mais universal quanto é mais profundamente regional. E os contos deste “Breve Sexta-Feira” trazem exatamente isto: muito regionalismo, muita imaginação e, principalmente, muito da cultura, dos hábitos e costumes – religiosos e laicos – dos judeus da Polônia, onde se desenrolam quase todas as tramas das 16 narrativas. O mundo mágico e mítico mistura-se à vida das personagens, todas inesquecíveis, das quais destaco, apenas para reafirmar o interesse despertado pelo autor, a jovem Yentl do conto Yentl, o rapaz da “yeshiva”, que se veste de homem, para continuar estudando a Torá depois que o pai morre. Esse conto virou peça de teatro e posteriormente filme, com Barbra Streisand. Para o leitor não acostumado com a cultura judaica, as referências a aspectos da liturgia religiosa e de nomes de festas, vestes e comidas desse povo pode ocasionar inicialmente alguma dificuldade de compreensão, mas bastam duas ou três páginas para percebermos que a capacidade do autor de nos envolver e de nos levar para seu mundo supera todos os possíveis obstáculos e passamos a fruir de sua prosa elegante e de suas histórias envolventes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário