quarta-feira, 15 de junho de 2022

O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir

 O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir


Publicado em 1949, esse livro de Simone de Beauvoir só não é mais atual porque traz narrativas, referências e costumes da Europa pós-segunda grande guerra, quando o mundo ainda se recuperava dessa hecatombe que se abatera sobre milhões de pessoas e ainda tentava tirar das cinzas os novos costumes e a nova filosofia que emergia, como o próprio feminismo. Sua escrita talvez fosse radical para a época, mas continua precisa na análise da condição da Mulher. Se muito avanço se registrou nesses 73 anos, muito ainda há para se chegar ao ponto ideal de igualdade entre homens e mulheres, no mundo ocidental. O machismo estrutural e estruturado ainda está presente em amplas facções de nossa sociedade, principalmente nas hordas de uma direita hidrófoba e estúpida, que se nega a perceber que, em termos sociais, a humanidade só tem a ganhar com a conquista pela mulher de direitos iguais aos do homem; que não há perda para o macho se as mulheres a ele se equiparem nas lutas e conquistas por melhores condições de vida, muito ao contrário. Esse o pensamento central da obra de Simone de Beauvoir, que deve, sim, ser lida e relida por amplas camadas de nossa intelectualidade, de nossos políticos e de nossos empresários, para que se rasgue esse véu de hipocrisia que ainda impede que tenham as mulheres os mesmos empregos e os mesmos salários conquistados por seus iguais masculinos; para que ela assuma na sociedade o seu papel exatamente ao lado do homem e não submissa a ele; para que o feminicídio deixe de existir em nossa sociedade e para que se instaure o mesmo respeito pelas mulheres que os machos têm uns pelos outros e que as mulheres suplantem também entre elas a condição de imanência e de complexo em relação ao homem, para adquirirem a condição de transcendência a que têm direito, como seres humanos, e não como complemento do homem. O mito da “costela de Adão”, fixado pelo cristianismo, é poderoso, mas não impossível de ser destruído e colocado no seu devido lugar, como apenas mais um mito absurdo que promove e mantém na mente dos seres humanos, inclusive das próprias mulheres, a submissão e a escravidão das mulheres. O feminismo deixou há muito de ser uma bandeira apenas da mulher, mas ainda não conquistou corações e mentes, para que a condição de igualdade entre os sexos se estabeleça. Por isso, a leitura de Simone de Beauvoir ainda incomoda tanto essa direita estúpida que usa cinturão e bota de esporas e que teme perder o chicote e, com ele, a sua masculinidade. Depois de uma longuíssima análise da condição da mulher, depois de argumentar e trazer à tona todos os medos e receios da humanidade, ou seja, tanto dos homens quanto das mulheres, em relação à ideia de igualdade, a autora termina suas reflexões com estas palavras simples, porém de grande força e profundidade, diante de tudo quanto escrevera antes: “Não há como dizer melhor. É no seio do mundo que lhe foi concedido que cabe ao homem fazer triunfar o reino da liberdade; para alcançar essa suprema vitória é, entre outras coisas, necessário que, para além de suas diferenciações naturais, homens e mulheres afirmem sem equívoco sua fraternidade.” Sem dúvida, “O Segundo Sexo”, ao lado de “O Capital”, de Marx, e de uns poucos outros, é um dos livros mais importantes da História. Necessário, sempre.

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