Amuleto, Roberto Bolaño
Auxilio Lacouture é uruguaia e vive clandestina na cidade do México. Não tem uma atividade profissional muito clara, mas faz bicos em casa de escritores ou na Faculdade de Letras e Filosofia, convivendo com muitos jovens poetas, sendo por isso considerada “a mãe dos poetas do México”. Magra e desdentada, é ela a narradora desse livro do chileno Roberto Bolaño. E sua narrativa acontece a partir dos 13 dias, em 1968, em que ficou presa no banheiro feminino da Faculdade, durante a ocupação militar do campus, quando, para não morrer de fome, comeu até papel higiênico. Suas memórias transitam por vários momentos e situações, em que se cruzam e entrecruzam inúmeros personagens, com destinos diversos, como, por exemplo, Lilian Serpas, a poeta salvadorenha. Lilian vive, como Auxilio, pelos bares e pelas noites, vendendo ou tentando vender gravuras de seu filho pintor, que vive recluso. Conta que um dia conheceu num bar um cubano e o levou para a cama. Era Ernesto Che Guevara. Mas não gosta de falar sobre ele. Muitos jovens poetas e outros já consagrados, de uma geração que parece caminhar para um destino trágico, perpassam pela narrativa de vida de Auxilio, até o seu delírio final, em que, presa na latrina da Faculdade, sonha com um exército de crianças entoando um cântico de liberdade, cântico esse que é o amuleto de toda uma geração perdida. Sobressai, para mim, a prosa deliciosamente envolvente do autor, além, é claro, das muitas referências literárias, o que tornou a leitura da obra extremamente prazerosa, já que gostamos, todos nós que amamos os livros, de livros que falam de outros livros e de outros escritores e poetas.
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