Caderno proibido, Alba de Céspedes
No dia 25 de novembro de 1950, Valeria, dona de casa e funcionária de um escritório de contabilidade, de 43 anos, casada há 24 anos com Michele, com um casal de filhos – Riccardo, de 22 anos e Mirella, de 20 – ao comprar cigarros para o marido numa tabacaria, tem o impulso irresistível de adquirir um caderno de capa preta, cuja venda é proibida aos domingos. Convence o vendedor a lhe vender o item e torna-o o seu diário proibido, ou seja, escondida da família, passa a registrar sua vida, seus pensamentos, suas dificuldades em relação ao marido e aos filhos, seus desejos e pensamentos mais recônditos. Entre esse 25 de novembro e 27 de maio de 1951, quando ela interrompe o diário e resolve queimá-lo, a filha começa uma relação com um homem mais velho e desquitado, para seu desespero de mulher conservadora, e sonha ir viver com ele em Milão; o filho sonha terminar os estudos e partir para a Argentina, em busca de oportunidade de vida, mas se apaixona por Marina; o marido sonha ver transformado em filme um roteiro que ele escreveu, para tirar a família das dificuldades financeiras; e, finalmente, Valeria enceta um romance quase platônico com o diretor da firma onde trabalha e sonha viajar com ele para Veneza. Tudo devidamente registrado em seu caderno proibido, cujas páginas ela preenche em horas tardias, para fugir da curiosidade da família. A dura realidade do dia a dia, a despersonalização feminina diante da dupla jornada de trabalho, o cansaço, as desilusões, os sonhos adiados e não realizados, o casamento transformado em rotina e sem qualquer resquício da paixão dos primeiros tempos, a ausência de perspectivas, tudo isso transforma a leitura de “Caderno Proibido” de uma literatura feminina para uma literatura feminista, na pena de uma das grandes escritoras italianas do século XX, inspiradora, inclusive, da “Série Napolitana”, de Elena Ferrante, já aqui comentada.
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