A origem do mundo, Jorge Edwards
O núcleo central dessa novela: um ciúme obsessivo. Patricio Illanes é médico, tem quase oitenta anos e é casado há quase trinta com uma mulher bem mais nova, Silvia. São chilenos e vivem exilados em Paris, depois do golpe militar de Pinochet, em 1973. Tem o casal um amigo íntimo, Felipe Diaz, de idade próxima à de Silvia, um boêmio e conquistador de mulheres por apenas um dia, além de crítico da esquerda dogmática. Um dia, Felipe Diaz é encontrado morto em seu apartamento. Suicídio. Ao abrir uma de suas gavetas “secretas”, Patricio encontra entre muitas fotos de suas amantes um retrato três por quatro de Silvia e uma foto de uma mulher de rosto coberto na mesma pose do quadro de Gustave Courbet, “A Origem do Mundo”, em exposição naquela época em Paris. Nasce no médico uma desconfiança, a de que sua mulher foi amante de Felipe Diaz, o que o leva a acreditar que a foto íntima da mulher de pernas abertas e mostrando a vagina seja ela. Obcecado por provar a traição, perambula pelas ruas de Paris, atrás de amigos e amantes do amigo morto, de forma patética e, às vezes, cômica e ridícula, para tentar arrancar deles qualquer informação que comprove sua suspeita. A história é quase toda narrada em primeira pessoa pela personagem do médico, num torvelinho de imagens e numa linguagem reiterativa que nos leva para dentro de sua mente. Há apenas dois “capítulos” (ou trechos, já que não há uma divisão clara de capítulos) em que o foco narrativo se modifica: um deles é o final do livro, quando a narração passa para Silvia, o que nos leva à surpreendente constatação de que o obsessivo ciúme de Patricio é o que o redime como homem. No posfácio, Mario Vargas Llosa escreve: “De todas as histórias que [Edwards] escreveu, esta é a que eu gosto mais, a mais divertida e inesperada, a de construção mais astuta.” Creio que não é necessário dizer mais nada, a não ser que estamos diante de um dos grandes escritores chilenos contemporâneos.
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