Ficções do Interlúdio / 4 – Poesias de Álvaro de Campos
Álvaro de Campos é engenheiro, conforme sua “biografia” forjada por Fernando Pessoa. É o heterônimo “modernista” do poeta, em termos formais, já que seus poemas fogem ao rigor pessoano, para se esparramarem em versos alternadamente longos e curtos, sem métrica, sem rima, à Walt Whitman. Tem, no entanto, a alma atormentada dos existencialistas, talvez influência de Kierkegaard, antecipando a náusea do mundo, o cansaço do mundo, dos existencialistas franceses da década de 40 do século XX. Sua poesia confessional, centrada no eu, nesse eu lírico atormentado, reflete o mundo em termos filosóficos e metafísicos. Seus versos trazem a carga emocional de mil volts, sem dar ao leitor o descanso de amenidades. É sempre tenso. Tanto nos poemas mais curtos quanto nos poemas mais longos, em que o poeta-filósofo não se furta a lançar mão de todos os recursos de linguagem e tensão, para nos levar às profundezas de seu ser abissal. E desses abismos regressamos quase sempre sem fôlego. Nessas “Ficções do Interlúdio / 4” estão alguns de seus poemas mais famosos, como as duas Odes, Triunfal e Marítima; Lisbon Revisited, nas duas versões, a de 1923 e a de 1926; Tabacaria (talvez o seu poema mais emblemático e mais conhecido); Dobrada à moda do Porto; Poema em linha reta (“nunca conheci quem tivesse levado porrada / todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”) e inúmeros outros poemas sem título, todos sempre tensos, todos sempre a nos trazer o espanto da vida, o cansaço da vida, com que o poeta nos mantém em alerta por todo o livro.
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