A biblioteca de Paris, Janet Skeslien Charles
Eu gosto tanto de ler que, quase sempre, o melhor livro que já li é o que terminei de ler. E mais: quem gosta de ler gosta de ler sobre livros, sobre leitura, sobre bibliotecas, isto é, histórias que envolvam livros. E foi o que me “pegou” ao me ver diante deste livro – A Biblioteca de Paris. Esperava encontrar uma história da biblioteca americana de Paris, mas ele é muito, muito mais do que isso. Um enredo que simplesmente me enredou numa teia de vidas que se dedicam a salvar uma biblioteca em plena segunda guerra mundial, com seus dramas, dificuldades e temores. A história, na verdade, passa-se em dois momentos e em dois lugares absolutamente distantes entre si: na Paris dos anos 1930 a 1945, narrados por Odile e em Froid, uma cidadezinha rural perdida no estado de Montana, nos Estados Unidos, narrados por Lily, uma adolescente inquieta e, às vezes, mexeriqueira, entre os anos de 1983 e 1989. O que une a velha senhora francesa à menina estadunidense? Um pouco o amor aos livros, um pouco esse gênio inquieto e indomável que leva a que tenham, ambas, problemas. Odile, jovem, em Paris, tem um irmão gêmeo que vai para a guerra e não volta. Sua paixão pelos livros faz que consiga um emprego na Biblioteca Americana de Paris, onde convive, durante os anos de guerra, com muitos amigos e amigas, com quem divide os sustos da ocupação nazista, a ameaça constante de fechamento da biblioteca, a proteção aos sócios judeus etc. O jovem por quem se apaixona e com quem se casa comete um despropósito imperdoável, logo após o término da guerra, na época da vingança, o que a leva a abandoná-lo e fugir para os Estados Unidos com um soldado que conhece num hospital de feridos de guerra, com quem se casa em Froid, Montana, onde passa a viver e onde muitos anos depois curte sua viuvez. Lily, por sua vez, a garota inquieta e enxerida, invade sua vida num momento de desespero e solidão. Tornam-se amigas, e a ela confessa sua complicada trajetória de vida, desde a França. Há muitas surpresas e dramas nessa trajetória, muitas lições de resistência à crueldade humana e à capacidade que tem a guerra de modificar o ser humano e torná-lo até mesmo rígido em seus princípios e a cometer enganos. Mas, a melhor surpresa, mesmo, é acompanhar a alternância dessas vidas e desses momentos e desses dramas entre as duas épocas e os dois lugares tão distantes e descobrir, ao final, quando se leem as notas da autora, que a narrativa foi baseada em fatos reais, mas de tal forma bem enredada, que nos deixa o sabor não só da surpresa, mas principalmente a certeza de que acabamos de ler um grande livro.