quarta-feira, 14 de setembro de 2022

O chão que ela pisa, Salman Rushdie

 O chão que ela pisa, Salman Rushdie


Ormus, Vina e Rai. Você nunca mais vai esquecer esses três nomes, depois que terminar a leitura desse longo (quase 600 páginas) romance de Salman Rushdie. Formam os três um triângulo amoroso, que conduz a narrativa, desde a década de 50 até o final do século XX, com a trajetória complexa de Ormus, indiano de família rica que se torna um astro do rock mundialmente famoso; de Vina, nascida nos Estados Unidos, mas de origem indiana, que se torna também estrela internacional da banda de Ormus, objeto de desejo de todos os homens que assistem a suas performances; e de Rai, fotojornalista, mais novo que Ormus, mas seu amigo desde criança, em Bombaim, a cidade que é, na primeira parte do romance, também personagem do livro. Os dois são apaixonados por Vina, que se casa com Ormus e torna-se amante de Rai. Viajamos com eles da Índia para a Inglaterra e depois para os Estados Unidos, numa história vertiginosa que reconta, em termos modernos, a lenda de Orfeu e Eurídice, em que o apaixonado precisa descer aos infernos para salvar a mulher amada, mas não consegue seu intento. Não há descanso para leitor, nessa narrativa alucinante: a cada linha, a cada página de seus longos capítulos, um fato novo, uma surpresa, uma referência a mitos, a divindades, a seres humanos reais ou fictícios, numa voltagem surpreendente de fatos e acontecimentos que revelam não só a grande erudição do autor, mas também sua incrível capacidade de nos envolver numa narrativa de perder o fôlego. Sem dúvida, a cada livro de Salman Rushdie, Maomé deve se revirar em seu túmulo de ódio e preconceitos, mesmo que ele não cutuque, como o fez, em “Versos Satânicos”, o mau humor de seus seguidores. Um dos grandes escritores do século XX, com sua visão de mundo e sua verve, seu humor sutil, e sua capacidade de misturar o real com o mágico, para retratar a realidade cruel e ao mesmo tempo complexa de nosso tempo. Um romance imperdível.

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