Um homem só, Christopher Isherwood
Anos 60, nos Estados Unidos. Crise dos mísseis de Cuba. Esse pano de fundo aparece de forma bastante sutil na narrativa de um dia na vida de George, professor de literatura de uma universidade californiana. George tem 58 anos, é inglês, adotou a cidadania americana e tem com seus alunos uma relação franca e ao mesmo tempo reservada, assim como com toda a sociedade em torno de sua residência. Acompanhamos seu despertar, sua ida para o campus e uma de suas aulas. Depois, a conversa com um de seus alunos na livraria, as compras no supermercado e a confirmação do jantar na casa de uma amiga e vizinha, rotina semanal. Conversam, jantam e bebem. Muito. Sai de lá meio bêbado e resolve passar num pub/bar na praia, perto de sua casa, onde reencontra o aluno com quem conversara na livraria. Bebem. Tomam banho de mar e vão para a casa dele. Praticamente nada acontece de excepcional. Durante essas 24 horas, um narrador onisciente revela-nos a vida e as dores de George: tem para com a sociedade um certo olhar pessimista, de tristeza, porque há pouco perdeu o amor de sua vida, num desastre, um jovem parceiro de todas as horas e, por isso, ele, um homem só e absolutamente triste, não sabe como lidar com a solidão, mesmo em companhia de outras pessoas. Os corpos masculinos, de alunos principalmente, chamam sua atenção, contudo o dilaceramento provocado pela perda do parceiro faz que essa beleza, que podia aquecer sua solidão, seja inútil e inibe a possibilidade de uma nova realização amorosa. Esse romance, relatado de uma forma um tanto fria e dura, mais um relatório do que um relato, da vida de um homem gay, na sua maturidade, chocou a muitos na época de seu lançamento. Mas, apesar de sua frieza, é um retrato pungente, esplendidamente elaborado, de uma época em que a homossexualidade ainda precisava de subterfúgios para ser exercida; e, acima de tudo, uma narrativa comovente sobre o amor e a infelicidade de envelhecer na solidão. De acordo com João Silvério Trevisan, que assina a apresentação do livro, “um dos primeiros e melhores romances da literatura gay moderna”. Para finalizar, uma informação ao leitor destas linhas: Christopher Isherwood foi o autor do livro Goodbye to Berlin que inspirou a peça I Am a Camera, de John Van Druten, por sua vez inspiração para o filme Cabaret, de Bob Fosse, com Liza Minelli.
Nenhum comentário:
Postar um comentário