quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Cinema sem pipoca, Marco Antônio Ribeiro de Castro

Cinema sem pipoca, Marco Antônio Ribeiro de Castro


A maior metrópole da América Latina, São Paulo, ainda é, felizmente, uma cidade provinciana, mesmo diante da pujança de seus números. Há inúmeros eventos, a maioria não registrados oficialmente, que humanizam essa selva de pedra, para usar a desgastada metáfora que a define. Há, por exemplo, na cidade, inúmeros grupos, grupinhos e grupelhos de pessoas que se reúnem periodicamente em torno de uma ideia, de um gosto, de um tema. Isso é algo que parece vir de tempos de antanho, de quando essa cidade era ainda – como, em muitos aspectos, continua a ser – uma cidade provinciana, quase caipira. A Semana de Arte Moderna de 22, por exemplo, nasceu de um grupelho de jovens da burguesia que se reuniam periodicamente num apartamento, em torno de uma jovem normalista, a famosa Miss Ciclone (consultem as biografias de Mário e Oswald de Andrade...). E os rapazes da Semana de 22 inspiraram a existência de inúmeros outros grupos de artistas modernistas, não só em São Paulo, como os rapazes de Cataguases, em Minas Gerais, por volta de 1928,que se reuniram em torno de uma revista chamada “Verde” e nos legaram poetas excelentes. Aliás, até mesmo a história do Brasil está recheada de grupos em torno de ideias, resultando muitas vezes, essas reuniões de poucos elementos, em fatos históricos, como revoltas e repressão, como a Inconfidência Mineira – um grupelho de intelectuais que incomodou a coroa portuguesa, e todos sabem no que deu. Mas, voltemos a São Paulo: há na cidade esse movimento de formiguinhas, de grupos de poucas pessoas aficionadas por um tema, milhares, talvez, a se reunir em torno de uma ideia, de um hobby, como literatura, cinema, artes em geral, culinária, música etc., em sessões cuja finalidade seja apenas degustar um bom vinho, ou para assistirem, por exemplo, a gravações de ópera; ou para discutirem teatro (ah, que saudade de Chico de Assis e seu Seminário de Dramaturgia do Arena, o SEMDA!); para declamarem poesia e ouvir música (ah!, o Sarau da Casinha, de minha amiga Eliana Iglesias, que não está mais na casinha, mas ainda se reúne mensalmente na Cantina do Piolim, na rua Augusta!); para escrever contos (ai! mais uma lembrança: o Grupo de Contistas de São Paulo, que se reunia na casa da saudosa amiga Cármen Rocha!); enfim, acho que muitos dos poucos leitores dessa resenha deverão ter participado ou ainda participam de algum grupo, ou de uma tribo, da cidade de São Paulo. E como isso, esse afã por cultura, por troca de conhecimentos, por se reunir com pessoas interessantes e com alguns interesses em comum humaniza a selva de pedra! Todo esse blábláblá para falar de um livro do qual não há muito o que falar: “Cinema sem pipoca” de Marco Antônio Ribeiro de Castro, fruto de um grupo de amigos aficionados por cinema, que se reúnem há muitos anos, periodicamente, para assistirem a filmes. Gostam tanto de cinema, que não admitem nem que se coma pipoca durante as sessões, daí o nome do livro. O autor, autodenominado curador do grupo, escreve a resenha dos 103 filmes vistos pela turma, com comentários relacionados ao diretor, aos atores, aos detalhes de produção etc., às vezes até mesmo com alguma pitada de fofoca. É um trabalho feito com a paixão dos amadores, e não com o olhar de críticos e entendidos, e, por isso mesmo, uma obra que se lê com o olhar de quem gosta de cinema e, por isso, merece estar à disposição, na estante, para uma consulta, sempre que se quiser lembrar do nome de um bom filme, de seu diretor ou de seu enredo.

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