Um estranho numa terra estranha, Robert Heinlein
“Grocar”: essa palavra, inventada pelo autor para resumir a forma marciana de ver e entender o mundo e tudo quanto a ele se relaciona, percorre repetidamente, até à exaustão, as mais de setecentas páginas do livro. O significado aproximado é “entender, compreender algo profundamente, de tal forma que a coisa ou o conceito apreendido passe a fazer parte do ser, como a água que bebemos, que se assimila ao nosso organismo”. Aliás, a água é outro elemento mítico e repetido durante toda história: partilhar a água com alguém é tornar essa pessoa mais do amigo, um irmão fiel para sempre. Dito isso, é preciso, antes de continuar comentando o livro, dizer que foi lançado em 1959, quando o planeta Marte incendiava a imaginação das pessoas com civilizações avançadas e, hoje sabemos, improváveis. Então, essa é a história de um humano filho dos primeiros humanos que chegaram ao planeta vermelho. Criado por marcianos e tendo assimilado a cultura deles, esse humano é trazido à Terra, onde é mantido sob custódia do governo estadunidense. Resgatado por uma enfermeira e por um jornalista, Valentine Michael Smith começa a entrar em contato com a cultura terráquea e compreender seus estranhos costumes, tentando “grocar” a forma de viver dos humanos, a cuja raça ele tem dificuldade de saber-se pertencente. No entanto, esse ser estranho numa terra estranha tem, além de alguns poderes extraordinários do povo marciano, a riqueza enorme herdada de seus pais, o que o torna, inclusive, uma espécie de “dono” do próprio planeta Marte e de todos as suas riquezas, embora isso, para ele, não tenha nenhum valor. Está mais preocupado em mudar os valores dos terráqueos, para uma vida de amor, respeito e liberdade total. Para isso, funda uma espécie de religião, o que vai incomodar sobremaneira as demais seitas existentes. É esse grito de liberdade, visto até mesmo como libertinagem, que faz do livro uma espécie de manifesto adotado pelo movimento hippie na década de 70, para escândalo dos moralistas de plantão. Enfim, embora datado, marcado por ideias e conceitos de uma época, é um livro para se ler com o prazer das grandes obras de ficção científica, pois discute temas ainda bastante atuais, em termos de aprofundamento do conhecimento do ser humano
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