quarta-feira, 11 de outubro de 2023

O Pintassilgo, Donna Tartt

 O Pintassilgo, Donna Tartt


Para não desanimar o possível futuro leitor do livro, devo começar dizendo que o livro é, sim, muito bom. Chega a empolgar, em alguns momentos. Mas, não é uma leitura muito fácil, pelo menos no seu primeiro terço, que se arrasta um pouco, embora seu começo seja promissor, em termos de trama e suspense. Como é um romance longo, muito longo, cheio de reviravoltas e mistérios, além de detalhista e lento, vamos dar apenas uma ideia do enredo, para conseguir fazer algum comentário que tenha sentido. Theodore Decker, Theo, tem 13 anos, vive apenas com a mãe (o pai sumiu no mundo), em Nova Iorque. Vão ambos visitar um museu porque ela deseja ver em exposição, ao vivo, uma pintura, cuja reprodução numa revista a atraíra sobremaneira, de um holandês do século XVII, chamado Carel Frabitius (“O pintassilgo”). Ocorre um atentado terrorista, uma explosão. Theo, que naquele momento, estava um pouco distante da mãe, atraído por uma garota acompanhado de um idoso, sobrevive. Esse idoso lhe dá um anel e um endereço, antes de morrer. O garoto consegue sair dos escombros, mas é tentado a levar consigo o quadro. Órfão, rejeitado pelo avô e sua nova mulher, é meio que adotado por uma família rica, amiga da mãe. No entanto, o pai aparece e o leva para Las Vegas, onde conhece o único amigo na cidade, Boris, um jovem russo cujo pai já o levou a viver em inúmeros países, por isso fala várias línguas. Desajustados ao ambiente, mergulham nas drogas e na bebida. Quando o pai de Theo morre num acidente, ele resolve fugir de Vegas, voltar para Nova Iorque e procurar o amigo restaurador de móveis antigos, cujo endereço lhe fora dado pelo pai da menina que o encantara no museu. A partir daí, a história acompanha – narrada pelo próprio Theo desde o início – a vida de adolescente e depois de adulto da personagem, arrastado ao mundo e submundo da arte, circulando com desenvoltura tanto pelo labirinto da loja de antiguidades quanto pelos salões de endinheirados que lhe compram os móveis recuperados pelo restaurador. Se a fase de Vegas é um tantinho tediosa e outro tantinho inverossímil, serve, no entanto, de base para o thriller de mistério e reviravoltas que levam a personagem a caminhos surpreendentes e, ao leitor, a não despregar mais os olhos do livro, até o final de suas mais de setecentas páginas. Às vezes, falta fôlego, para acompanhar a narrativa vibrante e complexa de Donna Tartt, mas vale, sim, a pena enfrentar as páginas desse livro fascinante e descobrir, com ela, os meandros do submundo das artes e suas armadilhas. Uma última observação: não sei se intencional ou não, já que a autora não estabelece nenhuma ligação explícita entre os dois fatos. A morte da mãe de Theo numa explosão num museu de Nova Iorque no século XX, aos trinta e poucos anos, tem uma relação sutil com a morte de Fabritius, o pintor, aos 32 anos, no século XVII, resultado de uma explosão de um depósito de pólvora em Delft, na Holanda, o que destruiu praticamente toda a sua obra, restando apenas 20 e poucos quadros, dentre eles “O Pintassilgo”, que é praticamente o leit-motiv de todo o enredo do romance de mesmo nome.

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