A resistência, Julian Fuks
Cenário: Buenos Aires, final dos anos 70. Uma ditadura feroz persegue, prende, mata e desaparece com os corpos de milhares de cidadãos. É preciso resistir. Um casal de classe média, intelectuais e atuantes ambos na área da medicina, não consegue engravidar. Recorre à adoção de um menino recém-nascido, filho de uma “italianinha”, que é tudo o que sabem sobre a mãe. Exilados no Brasil, em São Paulo, têm mais dois filhos naturais, um casal. O narrador do livro é esse segundo filho. Abre a narrativa afirmando que seu irmão é adotado. E que nada se pode fazer a respeito. A partir daí, dúvidas e questionamentos não apenas sobre a situação do país de origem de seus pais, mas também sobre o próprio processo de adoção. As relações familiares em torno do menino, do adolescente e do adulto adotado se tornam complexas, já no filho adotado há, então, a resistência em torno de sua própria condição. A emoção prevalece em torno da situação em que se colocam os filhos legítimos em relação ao irmão adotado e o desconforto desse irmão, que às vezes se vê não devidamente acolhido. A sutileza e a inteligência com que o autor trata a questão toca profundamente nossa sensibilidade, já que o tema é não só complicado, mas também se refere a sentimentos humanos extremamente delicados. Um livro curto, apenas pouco mais de 150 páginas, mas um oceano de ideias, sentimentos, reflexões, ao abordar relações familiares que repercutem em milhares de outras famílias que lidam com a mesma situação. A adoção é um ato de amor, para usar um clichê, mas pode trazer consigo um cadinho de emoções, de dúvidas, e até mesmo de problemas, que precisam ser pensados, sentidos, meditados e resolvidos, rompendo qualquer tipo de resistência, para prevalecer a união e o bom senso, ao contrário da resistência necessária aos regimes totalitários e assassinos. Não sei se foi essa a mensagem desejada pelo autor, mas é, pelo menos para mim, a mensagem que ficou, quando acompanhei com emoção cada linha, cada parágrafo, cada capítulo desse excelente livro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário