Marina, Carlos Ruiz Zafón
Uma história deliciosamente absurda. Dizem alguns críticos que se trata de um “romance gótico”, talvez pelo barroquismo de seu enredo. Na Barcelona dos anos setenta, Óscar Drai, um garoto 15 anos, é um solitário estudante de um internato, praticamente esquecido pelos pais. Tem o hábito de usar seu tempo livre em caminhadas pelas ruas da cidade, atraído principalmente pela arquitetura de seus antigos casarões. E é num desses casarões que conhece a também adolescente Marina e seu pai, um pintor atormentado pela morte precoce da esposa. Tornam-se amigos e Óscar faz de sua paixão por Marina e a da amizade de seu pai a família de que ele sente falta, na solidão do internato, onde tem poucos amigos. Um dia, Marina leva-o a um cemitério abandonado, ao qual comparece sempre à mesma data e à mesma hora uma estranha mulher, que visita um determinado túmulo. Curiosos pela história dessa mulher, os dois adolescentes vão-se envolver num mirabolante enredo de mistérios que envolve palacetes e estufas abandonadas, manequins vivos, a marca de uma borboleta negra, e o conhecimento da vida de um imigrante de Praga que fez fortuna, se casou com uma cantora de ópera e tentou construir para ela um imenso teatro. Toda a investigação se complica para eles, numa aventura surreal pelas ruas e pelos túneis fétidos dos esgotos de Barcelona, em busca de uma verdade que lhes chega de forma trágica e através de reviravoltas de perder o fôlego, com o envolvimento de muitas outras personagens. Enfim, um livro realmente “gótico”, ao envolver perseguições e mortes misteriosas, num ambiente de ruas e casarões e construções antigas, dentro de esgotos onde vivem criaturas fantasmagóricas e assassinas, numa cidade-personagem que guarda memórias de traições, de vinganças, de busca frenética de um homem para driblar a morte e a decadência física, com muitos elementos de suspense e mistérios insondáveis, numa narrativa alucinante. O autor, Carlos Ruiz Zafón, cujo best-seller mundial, “A sombra do vento” (que já comentei aqui mesmo, neste blog), apresenta-nos, neste romance anterior, todos os elementos de um tipo de narrativa que conquistou e conquista milhões de leitores pelo mundo afora. E mais uma vez, aqui, como muitas vezes acontece na boa literatura, a história, mirabolante e absurda, transcende o inusitado, para levar ao leitor uma reflexão sobre a solidão e as perdas com que todo ser humano inevitavelmente tem que lidar um dia.
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