O reino da fala, Tom Wolfe
A Linguística é uma ciência complexa. Estuda a linguagem humana, em todos os seus aspectos. Tem oferecido explicações para muitos fenômenos ligados à fala, usando métodos estatísticos, pesquisa de campo, comparações entre os milhares de idiomas, contribuindo para o entendimento da evolução humana. Mas, há um aspecto da linguagem que a linguística e nenhuma outra ciência conseguiu dar uma resposta satisfatória: a origem da fala. Como o ser humano aprendeu a falar? Os evolucionistas, Darwin à frente, levantam a hipótese de que os humanos aprenderam a falar quando começou a imitar o canto e os ruídos dos pássaros. Um dos maiores linguistas do século XX, Noan Chomsky, lançou uma hipótese que foi aceita por vários anos: o ser humano tem um órgão da fala, localizado em algum lugar do cérebro, o que lhe permite nascer com uma espécie de gramática universal. No entanto, “em uma noite clara do ano de 2016”, Tom Wolfe, premiado jornalista estadunidense, “surfando na rede”, encontrou uma página que dizia: “O mistério da evolução da linguagem”. O texto dizia que oito evolucionistas famosos, dentre eles Noan Chomsky, jogavam a toalha e afirmavam que a origem e evolução da fala continuavam um mistério para a ciência, ou seja, depois de 150 anos – desde a publicação da teoria da evolução – e após inumeráveis avanços da ciência, nada havia sido descoberto que afirmasse com absoluta certeza como o ser humano adquiriu a fala e como ela evoluiu. A curiosidade jornalística levou-o, então, a escrever este livro – “O reino da fala” – no qual nos conta as peripécias dos evolucionistas e dos linguistas em buscar a origem da linguagem humana, praticamente sem sucesso, a não ser... Bem, há então a história incrível de Daniel Everett, um missionário e dublê de linguista, que passa dez anos de sua vida numa pequena tribo amazônica, os pirahãs, que se comunicam através de uma língua que foge a todos os princípios linguísticos até então aceitos. Uma língua de vocabulário mínimo, com ruídos e gritos e cantos imitativos de pássaros; uma língua que só usa o presente, ou seja, não possibilita narrativas de passado ou de futuro. A publicação do livro que narra as aventuras e, principalmente, a estrutura da linguagem desses indígenas brasileiros abala completamente os conceitos até então disseminados por Chomski e seus seguidores. O que Wolfe escreve, portanto, não é um estudo sobre a fala humana, mas uma reportagem, às vezes irônica, sobre um quebra-cabeças que nos leva a conclusões bastante interessantes sobre a fala, a linguagem, como o principal artefato da evolução humana. Mas, para entender bem isso, é preciso que você leia o livro. E acredite: é uma leitura extremamente agradável. E até divertida. Mesmo que você não entenda nada de linguística e até mesmo tenha algum ranço para com a gramática, principalmente a gramática da nossa “última flor do Lácio”.
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