O segredo dos flamengos, Federico Andahazi
Uma ficção desbragada, sem medo de inventar, iludir, seduzir, para contar uma deliciosa história – absurda – mas envolvente, ocorrida no século XV, com todas as tintas da época. Sim, tintas. Porque se trata da vida de pintores, num tempo em que a arte da pintura alça seus primeiros voos para o Renascimento, em que a busca pela perfeição a tudo justifica, até assassinar. E é também a misteriosos assassinatos que nos leva o enredo, que começa com o enterro do jovem e promissor pintor de 16 anos, Pietro Della Chiesa, encontrado morto, nu, degolado, o rosto sem pele, numa floresta de Florença, o aluno favorito do mestre Francesco Monterga. Enquanto isso, em Flandres, os irmãos Van Mander – um deles cego, mas responsável pela preparação dos pigmentos; o outro, pintor – são seduzidos por uma belíssima jovem portuguesa que os contrata para pintar o seu retrato. Os irmãos de Flandres e o pintor florentino são inimigos mortais e todos eles buscam um misterioso preparado que ajudaria a fixar os pigmentos e daria a eles a possibilidade das cores perfeitas, em suas pinturas. Quem encontrar a fórmula desse misterioso preparado pode, no entanto, pagar com a perda da visão essa suprema ventura, mas ganhará o poder de penetrar nas cortes e ganhar fortunas com sua arte. Esse o panorama dessa ficção, que considero deliciosamente desbragada e sedutora, em mais uma obra desse escritor argentino contemporâneo, que sabe dosar como ninguém um bom enredo com cores históricas, como no excelente e injustamente declarado escandaloso romance “O anatomista”.