Mad Maria, Marcio Souza
O escritor amazonense Marcio Souza não perdoa a estupidez dos que tentaram domar a floresta amazônica. Neste romance, refaz a saga de uma empresa estadunidense que teve por objetivo construir uma ferrovia que pudesse competir com o Canal do Panamá, carregando o látex extraído da floresta a preços mais competitivos do que a difícil tarefa de ultrapassar as corredeiras e cachoeiras dos rios amazônicos. É uma narrativa cruel, sem dúvida, mas que nos coloca diante da corrupção de políticos e empresários, durante o governo de Hermes da Fonseca, em 1911. Há personagens icônicos, como o jovem médico estadunidense e seu, no início, embate com o experiente engenheiro inglês, quanto aos métodos de administração, extremamente extenuantes e cruéis, da mão de obra encarregada de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré, através de pântanos alagados e da quantidade de cobras, escorpiões e formigas da floresta. Os operários são principalmente negros vindos de Barbados, mas também há alemães, chineses e de várias outras nacionalidades, todos explorados até a morte – e o número de mortos é assustador, tanto por doenças quanto por brigas e vinganças entre eles. Também há políticos corruptos, no Rio de Janeiro, manipulados pelo empresário espertalhão, Percival Farquhar, que a todos compra com artimanhas e com o poder da grana que “ergue e destrói” não só coisas belas, mas também obras absurdas, para o ganho dos capitalistas internacionais. A saga no “inferno verde” dos homens que constroem a ferrovia tem lances macabros, em que a fúria humana se materializa diante da natureza impoluta, mas principalmente diante da ganância e da estupidez daqueles que acham que podem usar e abusar dos seres humanos, para a consecução de seus objetivos. A ferrovia teve um grande valor estratégico, sim, para o país e só foi desativada em 1966 pelo governo de Castelo Branco, mas o seu custo em vidas humanas ainda não foi plenamente calculado e o livro de Marcio Souza tem essa pretensão, a de levar o leitor a pensar seriamente no quanto este país ainda precisa de governos que não se rendam ao capital estrangeiro e não entreguem nossas riquezas à custa de vidas e da deterioração do meio-ambiente. Sem dúvida, um libelo contra a exploração, não só de um país, mas do ser humano pelo ser humano.
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