domingo, 21 de julho de 2024

O quarto azul, Georges Simenon

O quarto azul, Georges Simenon



Um dossiê não tem psicologia, sentimentos. É apenas um relato objetivo. Duro. Sem truques literários. “O quarto azul” insere-se nesta categoria: romance dossiê. Tem por objetivo nos levar aos cantos sombrios da personalidade humana, sem sentimentalismos, apenas os fatos. Não é um livro longo, tem menos de 140 páginas, suficientes para nos fascinar. A história em si não é complexa, complexos são os relacionamentos. E o autor não nos traz os porquês, deixa que nossa imaginação flua. Dito isso, vamos a um breve resumo da história. Numa pequena cidade do interior da França, Tony Falcone, um filho de um imigrante italiano, reencontra, já adulto e casado e tendo jma filha a quem idolatra, uma colega dos tempos de escola, Andrée Despierre, também casada com um próspero comerciante da cidade. Tornam-se amantes e encontram-se durante onze meses no quarto de um hotel de seu irmão. O marido de Andrée tem a saúde frágil e falece. Dois meses depois, Tony está preso e sua vida é detalhadamente esmiuçada em audiências diante de um juiz. Teria o rapaz assassinado o marido da amante? Numa audiência de acareação, reencontra Andrée, que também está preso. Por quê? Tony tem, afinal, uma reação de ódio e revolta contra a ex-amante. Embora o romance tenha uma estrutura de dossiê, todo o enredo é contado sob o ponto de vista de Tony, ou seja, só conhecemos a protagonista, Andrée através daquilo que o narrador nos conta de seu amante: as relações sexuais intensas e às vezes um pouco violentas, suas insinuações etc. Bem, paremos por aqui, para deixarmos um possível futuro leitor desse intrigante romance se deleitar, como eu, pelos mistérios, ou melhor, pelo desenrolar do enredo que nos leva, como afirmei antes, aos descaminhos dos relacionamentos humanos, num desfecho aberto e primoroso, da mais pura literatura de ficção no gênero “crime e castigo” de um dos mestres do suspense.

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