segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Montevidéu, Enrique Villa-Matas

 Montevidéu, Enrique Villa-Matas



Um romance quase sem enredo. Um narrador inominado – o alter ego do autor? – é um escritor que diz a todo mundo que não mais escreve, mas todos lhe dizem que ele não escreve, e então, para dizer que não mais consegue escrever, tece um enredo complexo de realidade misturada com ficção, sonhos e imaginação, com 240 páginas. Leva-nos de Barcelona a Paris, de Paris a Montevidéu, numa narrativa cheia de non-sense. O que foi fazer em Montevidéu? Não fica muito clara a participação dele num congresso estranho, com um tema estranho, no qual é um dos conferencistas. Mas, o que realmente acontece com ele em Montevidéu é uma série de fatos surreais. Primeiro, ele fica sabendo que num determinado hotel, chamado Cervantes, há um quarto onde teria se hospedado o escritor Julio Cortázar, onde ele teria escrito um conto chamado “A porta condenada”. Essa porta parece separar o mundo real do mundo da ficção e o instante em que Cortázar a descreve e passa por seu pórtico é o momento quando teria entrado na sua ficção o fantástico, marca de sua literatura. O narrador quer, portanto, hospedar-se no mesmo quarto e viver a mesma experiência do escritor e quando isso acontece, ele abre a porta para o quarto contíguo, o quarto da irrealidade, da fantasia, e torna-se obcecado, a partir daí, pela obra do escritor argentino. E suas viagens, através de várias cidades, como Paris, Reykjavik, Cascais, St. Gallen e Bogotá, transforma-se na obsessiva busca pela inspiração ou, como lhe diz um amigo, pelo Sopro que o fará voltar a escrever. Mas tudo isso pontilhado com muito non-sense, muitas citações literárias e referências tanto a vários autores, quanto a outras artes, como pintura, cinema etc., misturando, portanto, todos os gêneros, numa espécie de manual literário de como escrever romances num mundo complexo, em que a melhor metáfora para ele é mesmo um labirinto, onde há portas que não se abrem, ou quando se abrem, nos levam para uma supra realidade que, ao fim e ao cabo, é a matéria prima do escritor. Enfim, um livro para quem ama literatura, ama ler e não tem receio de se perder no labirinto.

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