sexta-feira, 16 de agosto de 2024

O perigo de estar lúcida, Rosa Montero



O perigo de estar lúcida, Rosa Montero



Se você é uma pessoa “normal”, leia este livro e saiba o que é ser “diferente”, o que é visitar os umbrais da loucura. Se você não é “normal”, vai-se identificar com as inúmeras histórias com que a autora nos premia para falar de um assunto complexo como a “loucura da criatividade” ou “a criatividade na loucura”. E se você gosta de literatura, então o prato cheio está servido, porque o assunto predileto do livro são os escritores, suas neuras, seus processos criativos, suas crises. E mais: informações abundam sobre aqueles que flertaram com o suicídio ou que realmente se mataram, por variados motivos. Destaca-se, neste quesito, a história da grande poeta estadunidense Silvia Plath e sua vida complicada ao lado de um marido, também um grande poeta, mas abusivo e mulherengo. Há uma outra poeta estadunidense, também colocada no panteão da literatura, cuja vida é ainda mais misteriosa e complicada, na sua quase eterna reclusão, só tendo obtido reconhecimento depois de sua morte (um suicídio em vida, lento e sofrido?): Elizabeth Bishop. É sobre essa gente “estranha”, portanto, escritores e poetas, que a narrativa se desenvolve e nos desvela até mesmo aqueles que foram os mais beberrões, o álcool também uma fuga para muitos deles. Mas, o que a autora desfila mesmo é sua vasta leitura e pesquisa sobre o funcionamento de nosso cérebro na hora de criar, com informações surpreendentes , levando o leitor para uma viagem que nos impressiona, nos envolve e nos comove a cada página, principalmente ao nos desvelar a “tempestade perfeita”, aquela condição em que o nosso cérebro “estala” e nos leva para alturas incomensuráveis da criação artística, um momento de quase loucura, de que voltamos com uma obra prima, ou nunca mais voltamos. Também não deixa de nos relatar contatos com alguns dos inúmeros escritores que ela entrevistou ao longo da vida, como, por exemplo, Doris Lessing. E também suas experiências pessoais, seus perrengues e até mesmo uma curiosa história de uma “outra”, que às vezes se faz passar por ela e a coloca em pequenas saias justas e que só ao final do livro se revela à escritora e a nós, quando ficamos sabendo pouco, muito pouco, dessa mulher belíssima que lhe envia anonimamente pequenos presentes em várias ocasiões: ao morrer, ela lhe deixa uma carta, através de um irmão, na qual fala muito pouco sobre si mesma e os motivos pelos quais a acompanhou durante toda a vida, a não ser a grande admiração pela escritora. E mais: deixa para ela, Rosa Montero, uma herança improvável, que só a leitura do livro você, leitor dessas linhas, desvendará. Enfim, um livro para quem ama de paixão a literatura, que admira os livros e os escritores, que tem curiosidade de saber como as obras literárias nascem e o preço que os autores pagam para realizá-las. Imperdível, sem dúvida.

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