sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Desonra, J. M. Coetzee

Desonra, J. M. Coetzee


Com um estilo preciso e claro, o escritor sul-africano nos leva para uma viagem tensa pelos escaninhos das “almas” no processo traumático do reencontro de uma nação consigo mesma, pós apartheid, uma palavra que ele não usa em momento algum do livro. Também muito raramente faz qualquer menção à cor da pele das personagens, e quando o faz, é de uma forma extremamente sutil. São seres humanos, e isso basta para o autor. A motivação ou o eixo principal da história não tem novidade, mas sim a forma como nos conduz para dentro dos conflitos. David Lurie é um professor de literatura que se envolve com uma aluna da universidade onde leciona. O caso é denunciado e termina numa espécie de “julgamento” moral entre as convicções humanistas do professor e as normas da universidade. Demitido, resolve passar uma temporada no sítio de sua filha, Lucy, no interior do país. Ali, esse homem culto, que tem a pretensão de escrever uma espécie de opera sobre a vida de Byron, confronta seus princípios com uma realidade complexa e com a violência ainda ressentida de uma sociedade que não aprendeu a conviver com a nova realidade e que ainda guarda enormes ressentimentos ocasionados por décadas de opressão. Todas as relações são dissecadas e expostas ao leitor, sem subterfúgios: a violência explícita ou implícita entre as pessoas; o amor entre pai e filha e o instinto de proteção; o sexo e as questões étnicas e também a relação entre os seres humanos e os animais. Pode estar certo o leitor de que, mesmo nos momentos mais “leves” da narrativa, o ritmo e a tensão não permitem que se desgrude um instante das páginas deste que é considerado um dos melhores romances do premiado escritor sul-africano de língua inglesa.

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