domingo, 6 de outubro de 2024

Se a rua Beale falasse, James Baldwin

Se a rua Beale falasse, James Baldwin


No Harlem de 1970, a jovem negra Tish, de 19 anos, grávida de seu namorado, Fonny, de 22, que está preso, acusado de estuprar uma porto-riquenha, luta para provar sua inocência. Esse o ponto central desse romance comovente de Baldwin, um dos maiores nomes da literatura negra estadunidense. Em torno desse enredo, vai-se desvelando, na narrativa em primeira pessoa da jovem Tish, todo o drama que é ser negro nos Estados Unidos nesses tempos de muito preconceito. Nada há que incrimine seu noivo do estupro. É apenas mais um caso de vingança de um policial branco, que se viu humilhado por uma mulher branca, quando impediu que ele o prendesse ao ser acusado de violência ao defender sua namorada do assédio de um jovem italiano branco e meio marginal. Quando teve oportunidade, colocou na cena do crime de estupro o jovem Fonny, manipulando a própria vítima e as testemunhas, provocando nas famílias dele e da moça traumas e tristezas que marcarão para sempre suas existências. Todos os detalhes de relacionamento entre as duas famílias, o desenrolar da gravidez de Tish, o desespero por tentar provar a inocência de Fonny, tudo isso está colocado com um misto de delicadeza e realismo que até mesmo os momentos de violência e sofrimento trazem, para o leitor, a comoção na dosagem exata, para que a história não caia no dramalhão, mas torna clara a intenção do autor de nos levar para o cotidiano de sofrimento e dor da população negra nesse período, denunciando o racismo de forma contundente, sem ser panfletário. Um livro para se ler com a atenção que merecem todos os grandes romances do século XX, sem dúvida nenhuma.

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