Fragmentos, Djanira Pio
Em meio a inúmeros volumes mais polpudos, encontro na minha estante este livro “magrinho”, de Djanira Pio: Fragmentos (contos). E lá está uma dedicatória, com a data de 2001. Já o li, com certeza. Mas resolvo lê-lo de novo, depois de tantos anos. Porque me desperta uma saudade imensa de um tempo que vivi e durante o qual convivi com a autora, todo mês, nas reuniões do “Grupo de Contistas de São Paulo”, na casa de uma saudosa e querida amiga, Cármen Costa, que coordenava o grupo e propunha a nós, para a reunião do mês seguinte, um tema mais cada vez mais estranho. Reclamávamos. Mas, sempre conseguíamos vencer o desfio de escrever um conto com aquele tema. E nos divertíamos, enquanto afiávamos nossas penas, com os comentários de cada participante. Bons tempos. Mas, voltemos a Djanira Pio e seu livro “magrinho”. Nas suas sessenta e poucas páginas, no entanto, estão 22 contos. O grupo de contistas coordenado por Cármem Rocha tinha por objetivo escrever contos curtos, ao contrário da tradição de grandes gênios desse gênero, como Poe, Dostoievski, Machado de Assis e tantos outros, que possuíam o dom de nos enredar por longas páginas de contos extraordinários. Contentávamos em, ou nos esforçávamos para concentrar em poucas páginas nossas histórias. Assim, portanto, são os contos de Djanira. Às vezes, meia página, dois ou três parágrafos. Mas lá está a essência de uma história que nos leva a imaginar, através dos vácuos sintagmáticos que ela cria, muito mais do que ela escreve. E com que ternura ela descreve as vidas de seus personagens! No entanto, não se engane o leitor: atrás de toda a aparente placidez de suas palavras há mundos complexos e muitas vezes até mesmo cruéis, num calidoscópio de emoções humanas que nos instigam. Então, como não é possível comentar, nessa breve resenha, cada um dos 22 contos, alerto meu leitor que se aventurar por suas páginas que não se deixe enganar: leia, releia, pense, imagine, sonhe, e fique perplexo coma sagacidade dessa grande contista.
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